Apartheid sanitário brasileiro
Enquanto grandes empresas disputam concessões bilionárias nos centros urbanos, povoados inteiros em Santarém, no Pará, ou nos bairros periféricos de Porto Velho dependem de cacimbas e fossas improvisadas. O novo Marco Legal do Saneamento mira em metas de cobertura nacional, mas ignora a desigualdade estrutural do país. Em Belford Roxo ou Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, crianças convivem com esgoto a céu aberto e surtos de doenças evitáveis, comprometendo saúde e escolarização.
Por Camilly Oliveira
No Brasil, 33 milhões de pessoas vivem sem acesso à água potável e mais de 90 milhões seguem sem coleta de esgoto, segundo o SNIS 2022 (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento). Os números refletem o apartheid sanitário que atinge em cheio comunidades periféricas, quilombolas e ribeirinhas, de imensa maioria negras.
Enquanto grandes empresas disputam concessões bilionárias nos centros urbanos, povoados inteiros em Santarém, no Pará, ou nos bairros periféricos de Porto Velho dependem de cacimbas e fossas improvisadas. O novo Marco Legal do Saneamento mira em metas de cobertura nacional, mas ignora a desigualdade estrutural do país. Em Belford Roxo ou Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, crianças convivem com esgoto a céu aberto e surtos de doenças evitáveis, comprometendo saúde e escolarização.
O agravamento da crise climática expõe ainda mais a desigualdade. Estiagens, enchentes e desastres escancaram a fragilidade da infraestrutura e exigem um modelo de saneamento que combine justiça territorial, preservação ambiental e acesso universal. Saneamento é direito.