Supermercados contra os trabalhadores
É um absurdo que justamente quando o Brasil tenta superar a desumana escala 6x1 e busque a redução da jornada de trabalho que suga a saúde física e mental dos funcionários, a Abras (Associação Brasileira de Supermercados) tenha o desplante de propor remuneração por hora trabalhada.
Por Itana Oliveira
Estamos negociando a dignidade do trabalhador. É um absurdo que justamente quando o Brasil tenta superar a desumana escala 6x1 e busque a redução da jornada de trabalho que suga a saúde física e mental dos funcionários, a Abras (Associação Brasileira de Supermercados) tenha o desplante de propor remuneração por hora trabalhada.
Um golpe sustentado na falaciosa desculpa que “assim os empregados terão a liberdade de fazer a sua própria jornada de trabalho”, como citou o presidente da entidade, João Galassi. Mudanças sugeridas por aqueles que organizam o capital e sempre querem subtrair o máximo possível dos trabalhadores.
Diferente do que citou o presidente da APAS (Associação Paulista de Supermercados), Erlon Ortega, os jovens não querem ‘flexibilização’, nem este tipo de ‘liberdade’. Não é esta a razão pela escassez de empregados no setor, mas sim os salários baixíssimos. Não há espaço para ilusão de que o pagamento será maior. O exemplo mais claro são os motoristas de aplicativo, os entregadores de fast food, que frequentemente lutam por direitos, por um valor fixo na carteira.
O modelo intermitente de trabalho se tornou legal desde 2017, quando a reforma trabalhista foi aprovada pelo então presidente Michel Temer. Na época, entidades diversas contestaram a decisão, argumentando que o contrato por hora favorece a precarização da relação de emprego, mas não obteve êxito. Em 2024, o STF reafirmou a constitucionalidade do tipo de contrato.
O modelo é uma imitação barata estadunidense, na qual os indivíduos se matam de trabalhar para receber o mínimo. Mesmo diante disto, a redução da escala 6x1 avança no Congresso, sindicalistas e trabalhadores pressionam. A pauta já foi entregue ao presidente da República. Não haverá retrocesso.