Mulher tem salário menor, apesar de trabalhar mais
Os dados, coletados em mais de 54 mil empresas com 100 ou mais empregados, revelam que o país não avança como deveria na igualdade de gênero. Pelo contrário, a diferença salarial aumentou 1,8 ponto percentual desde o primeiro levantamento, em 2024.
Por Rose Lima
Ainda é madrugada quando milhares de mulheres, a maioria negra, moradoras das periferias deixam as casas em busca do sustento. Enfrentam ônibus lotados, longas jornadas e carregam nas costas o peso de uma sociedade que insiste em pagar menos a quem mais trabalha. Os dados confirmam que a desigualdade tem número e cor.
Elas ganham, em média, 21,2% a menos do que os homens, segundo o 4º Relatório de Transparência Salarial, divulgado pelos ministérios do Trabalho e das Mulheres. Quando se trata de cargos de chefia, o abismo aumenta, 27,1% a menos. E se o recorte for racial, o retrato é ainda mais cruel. Mulheres negras ganham 53,4% a menos do que homens não negros.
Nos bancos, por exemplo, as mulheres ganham 18,6% a menos que os homens, segundo o Dieese. Entre as bancárias negras, a diferença chega a 37,7%. Mesmo quando chegam a cargos de liderança, elas continuam atrás — 25% a menos que os colegas homens.
Os dados, coletados em mais de 54 mil empresas com 100 ou mais empregados, revelam que o país não avança como deveria na igualdade de gênero. Pelo contrário, a diferença salarial aumentou 1,8 ponto percentual desde o primeiro levantamento, em 2024.
Especialistas apontam que o crescimento da base de dados ajuda a mostrar um quadro mais fiel da realidade. Mas, isso não muda o essencial. As barreiras impostas às mulheres, especialmente às negras, começam antes do emprego. Estão no acesso à educação, nas oportunidades de carreira, na divisão desigual do trabalho doméstico e no preconceito que ainda dita quem “parece” estar no lugar certo.
