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Bala perdida em corpo inocente

No artigo, o diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ, Álvaro Gomes, aborda os casos de vítimas de violência policial, especialmente na Bahia.

'Mãe, eu posso ficar ali sentado na calçada e a senhora daqui me vendo?'. A mãe respondeu: 'Pode'. Assim Gabriel Silva, de 10 anos, na porta de sua casa, foi atingido por uma bala perdida no domingo. Dia 23 de julho, no bairro de Portão, em Lauro de Freitas (BA). Não sobreviveu. A mãe de Gabriel relatou que a polícia chegou atirando (G1, 24/07/23). 

 

Mais uma vítima da violência policial que se junta a centenas de outras. São crianças, jovens, idosos em todo país, mas a Bahia tem se destacado. No primeiro semestre deste ano, 30 pessoas foram atingidas por bala perdida, 9 morreram. Na Região Metropolitana de Salvador foram 792 tiroteios, com 759 vítimas e 598 mortes, aumento de 20% comparado com o semestre anterior, que registrou 499 mortes nos 753 tiroteios. (https://fogocruzado.org.br/dados/relatorios/grande-salvador-primeiro-semestre-2023) 


Em 2021, na Bahia, foram 7.069 assassinatos. Em 2022, caiu para 6.659. Mas, em números absolutos, a Bahia se coloca em primeiro lugar e em números relativos em segundo. O Amapá registra 50,6 mortes por 100 mil habitantes e a Bahia 47,1 por 100 mil. 


Quando se analisa assassinatos por intervenções policiais, a Bahia ultrapassa o Rio de Janeiro e mais uma vez aparece em primeiro lugar. Foram 1.464 homicídios. O Rio de Janeiro registrou 1.330. Dos 10 municípios mais “violentos” do Brasil, a Bahia concentra seis (Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2023).


A questão da violência no Brasil e na Bahia, é extremamente complexa. Não existe solução simples. São necessários muitos estudos, pesquisas para identificar as raízes do problema. Não basta anunciar novas viaturas, novo concurso para polícia, aprimorar os instrumentos de inteligência da segurança pública. Não se resolve também a partir do recrudescimento da repressão que culmina em mais mortes de jovens negros e pobres.


A repressão policial é necessária para combater os efeitos de um problema que é estrutural, mas precisa ocorrer com base na legislação e no respeito aos direitos humanos. Uma das medidas importantes é a utilização de câmaras nos uniformes dos policiais, inclusive para a sua própria proteção. O combate à desigualdade social também se constitui em uma medida fundamental para alcançar a paz tão almejada por todos.


*Álvaro Gomes é diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ