O povo da luz?
No artigo, o cineasta, diretor teatral, poeta e escritor Carlos Pronzato fala mas um vez sobre a proporção que tomou a calamidade humanitária do genocídio perpetrado por Israel em Gaza.
Em primeiro lugar devo dizer que nunca escrevi dois artigos consecutivos sobre idêntico tema, mas a proporção que tomou a calamidade humanitária do genocídio perpetrado por Israel em Gaza neste novo capítulo sangrento (há 75 anos os palestinos sofrem apartheid, tortura, expulsão e mortes, precisamente desde 1948, ano da fundação do estado de Israel na Palestina) não admite relegar este episódio a apenas um artigo.
A guerra em curso dos Estados Unidos e a OTAN contra a Rússia, utilizando a Ucrânia como terceirizado, parece não bastar para afiançar a sua geopolítica imperialista - em decadência - no Oriente Médio e inclusive na Ásia, no seu afã e sonho belicista contra a China, foco final desta contenda em um mundo já multipolar. É a vez do seu sócio e ator coadjuvante, Israel, entrar em grande estilo nesta superprodução hollywoodiana de guerras fictícias contra focos indefensos ou minimamente armados manipulando a opinião pública ao seu favor através da indústria das fake news ao redor do mundo. Em contraposição, até o principal jornal israelense, o Haaretz, declara que o atual crime de guerra contra o povo palestino é de responsabilidade de Netanyahu e conceituados intelectuais judeus alertam há décadas sobre a política belicista do governo.
É evidente que nada disto teria acontecido sem a colaboração explícita do maior exército do mundo, o dos EUA, tanto é que Israel só iniciou a invasão de Gaza depois que os EUA posicionaram seu arsenal bélico para dar sustentação ao massacre que estamos observando, atônitos, todo dia. A construção na mídia internacional do conceito de vítimas (Israel) contra terrorismo (Hamas/Palestinos) é de uma hipocrisia e desumanidade revoltantes.
Antes de continuar é preciso destacar que na criação e empoderamento do Hamas, para dividir o mundo árabe, o dedo histórico de Israel esteve presente para ter mais um pretexto para colocar em prática a sua solução final, aniquilar a Palestina. Em uma reunião privada em 2019, Netanyahu disse que “qualquer pessoa que queira impedir o estabelecimento de um estado palestino tem de apoiar o fortalecimento do Hamas”. Onde estão os nomes e as imagens das 40 crianças “decapitadas pelo Hamas” no dia 7 de outubro? Até o New York Times desmentiu que o míssil que matou 471 palestinos num Hospital em Gaza tenha partido das forças de resistência palestina. Nem o Likud, partido do governo, nem Netanyahu, querem a paz. “Todos os ativistas do Hamas devem morrer, acima do solo, debaixo do solo, dentro e fora de Gaza” declarou o Hitler do século XXI. “Nós somos o povo da luz, eles são o povo das trevas e a luz triunfará sobre as trevas”, disse também, citando uma passagem do Antigo Testamento.
* Carlos Pronzato é cineasta, diretor teatral, poeta e escritor