COP30: a última chance
No artigo, Carlos Pronzato fala sobre a COP30.
Sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que começou ontem em Belém, num país que se livrou do governo Bolsonaro (2018-2022), é um início promissor. Não que o governo atual esteja isento de episódios negativos ligados ao meio ambiente, como não podia deixar de ser, num país gigantesco que contém indústrias poderosas nacionais e transnacionais (e os seus dejetos diários) que ferem o equilíbrio biológico do planeta, mas há pelo menos uma disposição contraposta aos desregramentos do executivo anterior.
O presidente espanhol, Pedro Sánchez, disse a este respeito: “A liderança do Brasil é inspiradora e nos lembra de que lado devemos estar. Do lado da razão e da ciência, e não do negacionismo, e, portanto, do engano.” Mas, apesar dos votos de bom augúrio deste líder socialista não devemos esquecer as atividades industriais do governo atual (e dos anteriores da mesma aliança política) que aumentam as emissões dos gases do efeito estufa e os desmatamentos de grandes áreas de floresta para abrir rodovias, sobre os quais os cientistas alertam: "Essa vasta região que será exposta pelas estradas contém carbono suficiente para empurrar o aquecimento global a um ponto irreversível". Também as extensivas plantações de soja e a pecuária, que também promovem o desmatamento, estão entre tantas outras atividades devastadoras, como a mineração em grande escala. A transição rápida para o fim dos combustíveis fósseis é mais do que urgente.
A Conferência das Partes (COP) da ONU Mudança Climática é o maior evento global das Nações Unidas para negociações intergovernamentais sobre a questão das mudanças climáticas, reunindo chefes de Estado, líderes de governo e representantes de alto nível de mais de 70 países.
É necessário implementar ações urgentes para evitar que catástrofes climáticas que impactam econômica e socialmente as populações em todo o mundo continuem se repetindo. Os efeitos climáticos locais se transformam em globais, como o que ocorreu no Rio Grande do Sul, originado em prejuízos do meio ambiente de regiões longínquas, o que reafirma o extremo cuidado que devemos ter com os recursos naturais do planeta, explorados de forma irresponsável, não sustentável e até criminosa por empresas como a Vale (os desastres de Mariana em 2015 e Brumadinho em 2019), por exemplo.
É a primeira vez que este evento mundial terá lugar na Amazônia, numa cidade rodeada de rios e bosques, biossistema chave na luta contra a mudança climática, um cenário que aparece - no precipício tenebroso de um planeta corroído pelo onipotente e acertadamente denominado capitalismo selvagem -, como uma última chance de reverter os destinos da sobrevivência do planeta.
* Carlos Pronzato é cineasta, diretor teatral, poeta e escritor. Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). [email protected]
