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População em situação de rua, herança escravocrata

No artigo, o diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ, Álvaro Gomes, aborda sobre o aumento da a população em situação de rua de 90.480 em 2012 para 281.472 em 2022.

Segundo estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nota técnica 103 de fevereiro de 2023, a população em situação de rua aumentou de 90.480 em 2012 para 281.472 em 2022. Essa parcela da sociedade é vítima das mais diversas formas de violência e é tratada com preconceito e discriminação, embora a quase totalidade seja formada de trabalhadores e trabalhadoras, são considerados preguiçosos, vagabundos por parte considerável da população.


Na realidade a história da humanidade depois das sociedades primitivas, sempre foi marcada pela contradição entre oprimidos e opressores, explorados e exploradores, foi assim no feudalismo, no escravismo, no capitalismo com suas variações. Atualmente vivemos um momento de grande ofensiva do capital, com grandes avanços tecnológicos que tem servido para aumentar a concentração de rendas e as desigualdades sociais.


Assim uma parcela considerável da população continua empobrecida, boa parte no trabalho informal entre os quais as pessoas em situação de rua, que sobrevivem em condições degradantes sob o olhar preconceituoso de parte da sociedade. Para Jessé Souza em seu livro a Elite do Atraso, essas classes abandonadas descendem de escravos “libertos”, sem qualquer ajuda que se junta a uma minoria de mestiços e pobres brancos com histórico de abandono.


Assim mesmo com a Abolição formal da Escravatura, em 13 de maio de 1888, observamos ainda hoje, uma herança escravocrata no Brasil, onde os pobres e negras são tratados como objetos descartáveis e os exploradores contratam as pessoas para viverem em situação degradante. Em 2022, por exemplo foram resgatadas 2575 pessoas do trabalho análogo à escravidão.


Assim como pontuou Jessé Souza, a nossa “ralé” atual, de todas as cores de pele, é o “inadaptado” à competição social que herdou todo o ódio e desprezo que se devotava ao negro antes.  Não por acaso, no período mais recente onde vivemos momentos de avanços na construção da democracia e da cidadania, de 2003 a 2014, a classe dominante no Brasil, alimentada pelo preconceito, discriminação e intolerância com as conquistas sociais, viabilizou a ascensão da extrema direita no Brasil com consequências gravíssimas para o país. 


O Brasil hoje, 2023, respira o ar da democracia e da esperança das conquistas sociais, em contraposição aos defensores dos senhores de engenho. Haverá de prevalecer os direitos humanos e uma sociedade sem a herança da escravidão.


*Álvaro Gomes é diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ