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Sebastião Salgado: O homem da câmera

No artigo, Carlos Pronzato fala sobre a vida de Sebastião Salgado

Nasceu em 1944 em Aimorés, MG, quase no fim da Segunda Guerra Mundial, quando o genocídio dos judeus pela Alemanha nazi foi interrompido pelo exército libertador da União Soviética, em Berlim, em 1945. Faleceu em 23 de maio deste ano, em pleno processo de outro genocídio nos narizes da parcimônia mundial, o do povo palestino pelo exército de Israel apoiado pelos EUA e a União Europeia. Houve outros genocídios, êxodos massivos de refugiados, a luta pela terra, a resistência indígena, o drama dos trabalhadores explorados das minas e tantas outras calamidades nesses 81 anos de vida de Sebastião Salgado, que com sua câmera registrou e entregou ao mundo imagens como sementes de alerta e de vida. “Quando vamos a todas essas regiões do mundo, quantas vezes na minha vida eu pus a câmera de lado e sentei para chorar? Porque era dramático demais, e eu estava sozinho. Esse é o poder do fotógrafo: poder estar lá” afirmou numa entrevista.

 

“Outras Américas” (1986), “Trabalhadores” (1993), “Terra” (1997), “Êxodos” (2000), “Gênesis” (2013), “Crianças” (2016) e “Amazônia” (2021) estão  entre os títulos dos seus livros mais conhecidos, que abarcam também dramáticas questões como as guerras de independência em Angola, Moçambique e o Sahara espanhol, as devastadoras secas na Faixa do Sahel nos anos 80, a Guerra do Golfo (1991), o genocídio em Ruanda (1994) e a febre do ouro em Serra Pelada, no Pará, o maior garimpo a céu aberto do mundo.  Se o Dziga Vertov (1896 - 1952) foi o criador do cinema verdade, o experimental Cine-olho, o “Homem com uma Câmera” (cinematográfica), o brasileiro Sebastião Salgado, em 50 anos de carreira e viagens por 120 países, foi o homem da câmera fotográfica.

 

Partiu para o exílio em 1969, durante a ditadura empresarial militar. Se instalou em Paris, onde se doutorou em Economia e trabalhou na Organização Internacional do Café a partir de 1971, como consultor de plantações na África. Foi o ponto de partida, o clique inicial da sua câmera Leica para nos desvelar o mundo, seus conflitos sociais e a preservação da natureza, a partir de 1973. Trabalharia depois nas agências Sygma, Gamma e Magnum Photos até criar, em 1994, com sua mulher, Lélia Wanick Salgado, a sua própria agência, Amazonas Images.

 

Diante da experiência visual única que motivam suas fotografias em preto e branco de apurada técnica, primoroso enfoque e particular leitura humanista para captar cantos remotos livres de exploração e narrar experiências dos povos oprimidos do mundo, destaco a sua sensibilidade, militância e compromisso social, como alento diário em defesa de uma humanidade sem guerras, genocídios e resgate do planeta das garras das transnacionais predadoras do meio ambiente. 

 

*Carlos Pronzato é cineasta, diretor teatral, poeta e escritor. Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). [email protected]