O tempo que virou patrão

O ultraliberalismo usa o avanço da tecnologia para deixar o mundo total em combustão. Não há mais permissão nem para descansar. Tudo acontece ao mesmo tempo, o tempo todo, e o trabalhador virou peça de um sistema que explora de forma perversa com a exigência de respostas instantâneas, mesmo fora do expediente. 

Por Camilly Oliveira

O ultraliberalismo usa o avanço da tecnologia para deixar o mundo total em combustão. Não há mais permissão nem para descansar. Tudo acontece ao mesmo tempo, o tempo todo, e o trabalhador virou peça de um sistema que explora de forma perversa com a exigência de respostas instantâneas, mesmo fora do expediente. 

 


Não importa a hora ou o dia da semana. A urgência virou regra, celular tornozeleira, e o chefe não precisa mais gritar, agora só basta notificar. O capital vence mais uma batalha ao transformar a mente humana apenas em linha de produção.

 


Pesquisa da Virginia Tech University identificou a “e-ansiedade” como sintoma epidêmico. A simples expectativa de um e-mail ou mensagem pelo celular fora do horário de trabalho já ativa gatilhos de estresse, culpa e angústia. A lógica é simples: quem não responde rápido, fica para trás. Quem responde sempre, se esvai aos poucos.

 


Vendida pelo ultraliberalismo como liberdade, a hiperconexão, na prática, escraviza. A cultura do imediatismo atropela o necessário: pensar, pausar, viver, cuidar. Para especialistas como Olga Merino Suárez, a desconexão precisa deixar de ser exceção e virar política pública. Sem o enfrentamento, a saúde mental continuará sendo triturada pelo capital.