Concreto, calor e desigualdade

As cidades brasileiras e do mundo estão cada vez mais quentes. O concreto das edificações e o asfalto das ruas transformaram os centros urbanos em verdadeiras estufas a céu aberto. Quanto mais cimento e menos vegetação, mais insuportável se torna o calor.

Por Julia Portela

As cidades brasileiras e do mundo estão cada vez mais quentes. O concreto das edificações e o asfalto das ruas transformaram os centros urbanos em verdadeiras estufas a céu aberto. Quanto mais cimento e menos vegetação, mais insuportável se torna o calor. O resultado é a formação das chamadas ilhas de calor, fenômeno que afeta diretamente a saúde da população, especialmente a dos trabalhadores e dos mais pobres.

 


Foi em Karachi, a maior metrópole do Paquistão, que uma tragédia anunciada acendeu um alerta. Em 2015, os termômetros da cidade chegaram aos 45?°C durante uma onda de calor devastadora. Os efeitos foram sentidos de forma brutal pela população mais vulnerável. Enquanto a elite se protegia com ar-condicionado, milhões enfrentavam o calor sufocante com as próprias forças. Dessa realidade nasceu a ideia de criar a primeira floresta urbana da região — uma resposta direta à desigualdade climática.

 


A crise ambiental, impulsionada por um modelo de desenvolvimento predatório, revela o abismo entre classes. Os que estão no topo da pirâmide, beneficiados por um sistema que coloca o lucro acima da vida, seguem blindados em suas casas refrigeradas. Já nas periferias, onde o verde quase não existe, a temperatura castiga diariamente.

 


Estudo da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP comprova: pequenas áreas verdes reduzem significativamente a temperatura nas zonas urbanas. Mas, para isto, é preciso romper com a lógica que vê o espaço urbano apenas como fonte de especulação e lucro. A preservação de árvores, a criação de áreas verdes e a luta por cidades mais humanas são, antes de tudo, pautas de justiça social e ambiental.