Santander atropela negociação sindical

O contraste entre lucro recorde e cortes disfarçados de reorganização revela prioridades que ignoram a dignidade laboral.

Por Julia Portela

O dia 25 de novembro marcou um episódio emblemático da forma como o Santander trata a negociação com a categoria bancária. Durante a reunião convocada para tratar da reestruturação, a direção do banco negou qualquer movimento interno e tentou esvaziar o debate, mesmo diante das informações que já circulavam entre os funcionários. A negativa oficial, seguida pela divulgação pública das mudanças no dia seguinte, deixou evidente a estratégia de ocultar decisões que afetam diretamente milhares de trabalhadores.

 

 

A escolha do banco de anunciar a reestruturação sem transparência e sem negociação é parte de uma política continuada de enfraquecimento das relações de trabalho. As alterações atingem setores como Select e Pessoa Jurídica e se somam a um histórico de ataques: demissões recorrentes, tentativas de ampliar jornada, retirada de estruturas de segurança e remodelações que colocam a pressão por metas acima do bem-estar de quem trabalha. A Comissão de Organização dos Empregados reagiu imediatamente, cobrando responsabilidade e exigindo interlocução séria diante da postura de desrespeito.

 

 

Enquanto aprofunda a precarização, o Santander ostenta números que comprovam seu poder econômico: R$ 11,5 bilhões de lucro apenas nos nove primeiros meses de 2025, com o melhor índice de eficiência do setor financeiro. A operação brasileira sustenta parte significativa do desempenho global do grupo, mas os trabalhadores seguem enfrentando sobrecarga, insegurança e falta de reconhecimento. O contraste entre lucro recorde e cortes disfarçados de reorganização revela prioridades que ignoram a dignidade laboral.

 

 

Ao avançar com uma reestruturação feita à revelia do diálogo, o Santander reafirma o alinhamento a um modelo ultraliberal que se apoia na redução de direitos e na intensificação do trabalho. Esse movimento exige vigilância reforçada da categoria e pressão permanente para impedir que mais mudanças sejam implementadas sem debate. O processo de resistência é essencial para barrar retrocessos e garantir que a reestruturação não seja mais um passo no desmonte das condições de trabalho no setor bancário.