A máquina de ódio contra o afro
O levantamento mostra o perfil dos agressores: evangélicos aparecem em 59% dos casos, percentual que desmonta discursos de tolerância propagados por setores fundamentalistas. A violência se espalha da vizinhança às redes sociais, onde 52% das casas foram atacadas, alimentando campanhas que buscam demonizar tradições afro-brasileiras para ampliar controle territorial, cultural e político.
Por Camilly Oliveira
O país revela a chaga do preconceito religioso que ainda estrutura relações sociais e institucionais. A pesquisa Respeite o Meu Terreiro, conduzida pela Renafro e pelo Ilê Omolu Oxum com 511 lideranças, mostra que 76% dos terreiros sofreram violações e 80% enfrentaram discriminação religiosa. Invasões, profanações e intimidações se impõem como rotina, como evidenciado no ataque ao Ìlé À?é Ìyá ??ún, em Aracaju, e na repressão direcionada a uma escola pública, em São Paulo, após um desenho sobre Iansã.
O levantamento mostra o perfil dos agressores: evangélicos aparecem em 59% dos casos, percentual que desmonta discursos de tolerância propagados por setores fundamentalistas. A violência se espalha da vizinhança às redes sociais, onde 52% das casas foram atacadas, alimentando campanhas que buscam demonizar tradições afro-brasileiras para ampliar controle territorial, cultural e político.
Em muitos territórios, as ofensivas se articulam com grupos armados e com estruturas que usam a religião como ferramenta de coerção, reforçando um projeto de poder que tenta submeter modos de vida que não se alinham ao cristianismo hegemônico.
Mesmo sob agressões tão severas, apenas 26% das vítimas registraram ocorrência. A mesma pesquisa confirma que 74% sofreram destruição ou ameaças diretas, números que sustentaram a apresentação das denúncias a ONU (Organização das Nações Unidas). Proteger comunidades tradicionais significa defender direitos, memória e democracia, valores que grupos extremistas tentam corroer.
