O golpe da Câmara na calada da noite
Uma engenharia legislativa construída para parecer moderada, mas que reorganiza o tabuleiro a favor de quem investiu contra a ordem constitucional.
Por Camilly Oliveira
A aprovação relâmpago do chamado PL da Dosimetria encerrou a noite na Câmara como um movimento calculado de quem tenta redesenhar o passado pela porta dos fundos. O projeto altera o cálculo de penas e, na prática, abre um corredor jurídico que reduz expressivamente o encarceramento de Jair Bolsonaro e dos condenados pelos ataques de 8 de janeiro. É uma engenharia legislativa construída para parecer moderada, mas que reorganiza o tabuleiro a favor de quem investiu contra a ordem constitucional.
A votação, às 3h56, quando o Brasil dormia, mostra explicitamente a intenção: aprovar no silêncio o que não sustentaria sob luz do sol. O texto segue agora para o Senado sob expectativa de tramitação acelerada, enquanto o Centrão celebra o meio-termo que não dá anistia total, mas cumpre o objetivo político de aliviar penas.
A movimentação causa impacto direto no cálculo de regime fechado, altera projeções de progressão e abre margem para discussões sobre remição, inaugurando um ciclo de controvérsias jurídicas antes mesmo da análise final dos senadores.
A sessão, porém, ganhou contornos mais complexos quando a Polícia Legislativa atacou jornalistas que apenas cumpriam seu papel. Cortaram o sinal da TV Câmara, expulsaram repórteres, empurraram cinegrafistas e feriram profissionais. A violência contra a imprensa dentro do Parlamento ultrapassa qualquer fronteira democrática.
