Pandemia envelheceu cérebros
Se até a mente adoece em um mundo sem rede de apoio, é sinal de que saúde mental também é política pública. O colapso pandêmico não ficou no passado, está impresso nas estruturas mais profundas de quem sobreviveu. E o que adoeceu durante este período não se cura só com o tempo, mas com um novo modelo de sociedade.
Por Camilly Oliveira
A Covid-19 não só parou o mundo, mas reconfigurou a forma como as pessoas vivem, pensam e sentem. Estudo da Universidade de Nottingham mostrou que o cérebro humano não saiu ileso, mesmo quem nunca teve o vírus sofreu com o peso do período.
As análises revelam que os cérebros envelheceram 5,5 meses a mais do que o esperado, reflexo direto de um cotidiano tomado por medo, isolamento e insegurança.
As mudanças atingiram áreas ligadas à memória, à concentração e à comunicação. Homens, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade social foram os mais atingidos. Não é coincidência, já que quando a desigualdade é a regra, os danos não se dividem de forma justa.
Se até a mente adoece em um mundo sem rede de apoio, é sinal de que saúde mental também é política pública. O colapso pandêmico não ficou no passado, está impresso nas estruturas mais profundas de quem sobreviveu. E o que adoeceu durante este período não se cura só com o tempo, mas com um novo modelo de sociedade.