Brasil: ser mãe aos 16 ainda é destino

Enquanto o país tratar gravidez na adolescência como falha individual, o ciclo do abuso e violência, continua. A maternidade forçada rouba tempo, estudo, sonhos e impede futuros. Ser mãe aos 16, em um Brasil tão desigual, não é escolha, mas sentença. 

Por Camilly Oliveira

No Brasil, ser mãe na adolescência continua sendo mais regra do que exceção. Uma em cada 23 meninas entre 15 e 19 anos tem um filho por ano. De 2020 a 2022, foram mais de um milhão de partos nessa faixa etária. Pior: 49 mil aconteceram com meninas entre 10 e 14 anos, casos que a lei chama do que realmente são, estupro de vulnerável. Por trás dos números, há abandono, moralismo e um país que finge surpresa diante da violência que atravessa o corpo das meninas mais pobres.

 


As maiores taxas estão em lugares que faltam escolas decentes, postos de saúde, renda, saneamento. No Norte, a taxa é de 77 partos a cada mil adolescentes, mais do que o dobro da do Sul. Três em cada quatro cidades nortistas têm índices parecidos com os de países pobres. Enquanto isto, no Sudeste, 5% das cidades seguem este padrão. O dado escancara a desigualdade de que quanto menos o Estado chega, mais cedo a infância termina.

 


Ser mãe cedo não é “tradição brasileira”, mas resultado de uma série de ausências. Falta acesso a anticoncepcional, aula sobre consentimento, e sobra silêncio e vulnerabilidades. Existem meninas quem engravidam sem saber o que está acontecendo, outras porque foram violentadas e ninguém viu, ou pior, viu e calou. Em muitos casos, a decisão nem é delas. E mesmo quando é, o que pesa por trás são fatores como medo, religiosidade ou falta total de perspectiva.

 


Enquanto o país tratar gravidez na adolescência como falha individual, o ciclo do abuso e violência, continua. A maternidade forçada rouba tempo, estudo, sonhos e impede futuros. Ser mãe aos 16, em um Brasil tão desigual, não é escolha, mas sentença.