Paz não nasce do medo
Drones lançando explosivos, corpos enfileirados, blindados e fuzis apontados para casas, ônibus incendiados e ruas bloqueadas. A cena que se repete em diversas cidades brasileiras não retrata segurança pública, mas uma política permanente de guerra contra territórios pobres e majoritariamente negros, onde vidas são tratadas como dano colateral e direitos constitucionais são suspensos na prática.
Por Julia Portela
Drones lançando explosivos, corpos enfileirados, blindados e fuzis apontados para casas, ônibus incendiados e ruas bloqueadas. A cena que se repete em diversas cidades brasileiras não retrata segurança pública, mas uma política permanente de guerra contra territórios pobres e majoritariamente negros, onde vidas são tratadas como dano colateral e direitos constitucionais são suspensos na prática.
A exposição contínua à violência urbana produz um nível de estresse extremo, adoecendo física e emocionalmente toda uma população. Enquanto o debate público se limita ao confronto entre Estado e crime organizado, uma sociedade inteira assiste, amedrontada e desamparada. Crianças crescem normalizando o som de tiros, a presença de blindados e o medo diário de perder familiares, tendo a infância sequestrada pela violência e pela ausência de direitos que deveriam protegê-las.
A resposta ao estresse é fisiológica: diante da ameaça, o cérebro libera hormônios para lutar ou fugir. Porém, nenhum organismo suporta viver permanentemente em estado de alerta. Comunidades submetidas, dia após dia, a operações policiais violentas e tiroteios constantes carregam marcas profundas, que vão da ansiedade e depressão ao adoecimento crônico, consequências diretas de uma política que falha na proteção e investe no terror.
Esta realidade não se limita ao indivíduo. O sofrimento é coletivo e estrutural, atravessado por desigualdade racial e econômica, além de abandono social. A violência que se impõe sobre as periferias não é exceção, mas projeto: enquanto bairros ricos recebem policiamento baseado na proteção e no diálogo, favelas são tratadas como inimigas e seus moradores como alvo.
