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Claro que foi golpe

No artigo, o jornalista Rogaciano Medeiros fala sobre o discurso de Lula no Uruguai que resgata a discussão sobre o impeachment, em 2016, da então presidenta Dilma Rousseff.

A fala de Lula no Uruguai resgata uma discussão que sempre mobilizou políticos, juristas, acadêmicos, a mídia, organizações populares, enfim o conjunto da sociedade. Afinal, o impeachment, em 2016, da então presidenta Dilma Rousseff, representou ruptura institucional? Provocou alguma fissura na legalidade?  


Naquele momento, interesses externos e internos associados atuavam a todo vapor para expulsar do poder central as forças progressistas, eleitas nas urnas, pela vontade popular. O plano, como concretizado depois, incluía meter mão no pré-sal, sabotar o BRICS, fazer a reforma trabalhista entre outros objetivos lesa-pátria e antipovo da agenda ultraliberal.


Campanha massiva de desinformação na mídia tradicional e, principalmente, na Internet, afirmava para a população, como se fosse verdade absoluta, que o PT era culpado por todos os males do Brasil e dos brasileiros, que Dilma havia cometido crime de responsabilidade, portanto eram indesejáveis e precisavam ser eliminados. Boa parte da sociedade acreditou.


Porém, fundamentar as bases legais para o impeachment não foi tão fácil quanto “convencer” a opinião pública. Antes mesmo da deposição, já havia comprovação de que a presidenta não tinha cometido crime de responsabilidade. Mesmo assim, o processo prosseguiu no Congresso, inclusive com o beneplácito do STF, acusado na época de não agir com firmeza para salvaguardar os preceitos constitucionais.


Como registra a História, o impeachment foi decisivo para ampliar e agravar os crimes da Lava Jato, amparar a prisão ilegal de Lula em 2018 e levar ao poder o fascinazismo bolsonarista, cuja nocividade tanto tem chocado o Brasil e o mundo.


No plano do Direito, da legalidade, há até margem para polêmica, controvérsias, mas do ponto de vista político não resta a menor dúvida de que foi um golpe, uma conspiração tramada pela grande maioria das elites políticas, econômicas e militares, com pleno respaldo da mídia corporativa. A legalidade não poderia sair ilesa diante de tantas exceções. É claro que houve ruptura.
 

* Rogaciano Medeiros é jornalista