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Chacinas, a guerra suja

No artigo, o diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ, Álvaro Gomes, aborda os casos de operações policiais que acabaram em chacinas no Rio de Janeiro e na Bahia.

Uma operação policial, na manhã em 02/08/23 terminou em uma chacina com ao menos 10 pessoas mortas no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, uma operação policial na Baixada Santista deflagrada dia 28/07/23 depois da morte do PM Patrick, resultou em 16 mortes até dia 05/08/23. Na Bahia operações militares resultaram em 30 mortes entre o dia 28/07/23 e 04/08/23. Vivemos uma verdadeira guerra contra a população pobre.


A violência é extremamente grave em todo país e na Bahia a situação não é diferente, segundo o instituto Fogo Cruzado, de 1º de julho de 2022 a 30 de junho de 2023, foram 1.545 tiroteios que culminaram em 1097 mortes, do total 529 ocorreram durante operações policiais com 379 mortes. Este quadro de violência precisa acabar. Grande parte destes assassinatos ocorrem em função da denominada “guerra às drogas”.


Na realidade as principais vítimas são as pessoas pobres, negras e jovens. A guerra não é contra as drogas, é contra pessoas. As drogas existem nas favelas e nos condomínios de luxo, em toda parte, os verdadeiros donos desse comercio são pessoas intocáveis, protegida por uma estrutura enraizada em vários segmentos da sociedade, inclusive nos grandes meios de comunicação que no geral formam opinião de que os empregados desse comercio e usuários pobres e em alguns casos os policiais são os principais algozes.


As principais vítimas dessa guerra suja, são as pessoas mais vulneráveis, inclusive população em situação de rua. Nos bairros de luxo a policiais não chegam atirando, é nas favelas e nos bairros pobres que morrem as pessoas.  Sempre é o discurso de que foram mortos traficantes e que as mortes ocorreram por troca de tiros, mas na realidade o que se ver na prática são verdadeiras execuções.


Nessa guerra o policial também é vítima, são pobres matando pobres, negros matando negros, miseráveis matando miseráveis. Com uma média são 50 mil assassinatos por ano a barbárie está presente em todo país.


Assim como no romance Utopia de Thomas More, de 1516, onde maridos e mulheres, viúvas e órfãos, pais e mães com seus filhinhos são expulsos de suas terras restando-lhes o roubo e a forca, aqui também resta aos pobres despossuídos, abandonados, humilhados, famintos, buscar uma forma de sobrevivência e de amenizar seu sofrimento e como consequência ao invés de paz e justiça social recai sobre suas vidas a violência letal.


*Álvaro Gomes é diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ