Pobre matando pobre
No artigo, diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ, Álvaro Gomes, fala sobre o episódio que acabou na morte de dois suspeitos de assaltar um motorista de aplicativo e dois policiais.
Sempre vou visitar um irmão que mora no bairro Santa Mônica, eu também já morei lá e no IAPI. Às vezes, encontrava outro irmão no bar próximo conversando e tomando uma cervejinha com o soldado Santana. De vez em quando eu sentava na mesa também. As conversas versavam sobre vários temas, mas, principalmente, política. Havia muita divergência, mas dava para dialogar.
Meu irmão falou que o soldado Anderson ficou meu fã, que nunca imaginava que um esquerdista e comunista fosse uma pessoa tão boa e que assimilou muito do meu diálogo. Geralmente, quando ia para casa do meu irmão e eles estavam no bar, eu sentava na mesa. O soldado Santana era muito receptivo e o diálogo fluía muito bem. No dia 27/09/23, leio na imprensa a informação da sua morte.
No episódio morreram 4 pessoas: dois suspeitos de assaltar um motorista de aplicativo e dois policiais. Pelo noticiário da grande imprensa, a polícia, em um carro despadronizado, seguia o motorista de um Siena branco em atitude suspeita. O veículo bateu no fundo de um ônibus, dois suspeitos fugiram, um foi morto durante a perseguição, o outro foi localizado em um bar onde se encontrava o soldado Anderson Santana.
Quando o soldado Marcelo Santana, que trabalhava à paisana chegou, no momento em que rendia o suspeito que se encontrava no bar no IAPI, Anderson Santana, fora de serviço, acreditando que o suspeito estava sendo assaltado, disparou contra o policial Marcelo e houve troca de tiros. Os 3 morreram. A PM informa que o suspeito estava com tornozeleira eletrônica (G1, 28/09/23).
Os terroristas que tentaram dar golpe de estado dia 08/01/23, invadindo a sede dos 3 poderes, em Brasília, e que vão responder em liberdade, estão de tornozelei-ra eletrônica. O fato de estar nesta condição não justifica a morte de ninguém.
O governador da Bahia, Jerônimo, foi muito feliz ao afirmar que “em momento algum eu determinei que trouxessem corpos, ou de criminosos ou de policiais ou de inocentes”. (Folha de São Paulo, 26/09/23). Foram 1.464, assassinatos na Bahia por intervenções policiais em 2022, sendo 11 policiais. No caso específico do IAPI, 4 pessoas morreram precocemente. A segurança pública precisa focar na vida. O que vemos são verdadeiras execuções. Pobres matando pobres.
*Álvaro Gomes é diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ