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A cultura da morte

No artigo, o diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ, Álvaro Gomes, aborda os casos recentes de violência no país.

Três pessoas morreram em tiroteio nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, dia 16/12/23. O empresário Rogério Saladino, atirou na policial Milena Bagalho Estevam, de 39 anos, que morreu, o outro policial reagiu e na troca de tiros, foram mortos o empresário e o vigilante Alex James. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, foi encontrado além de álcool, drogas sintéticas, haxixe e maconha, na residência do empresário e ele também tinha passagens por homicídios, lesão corporal e crime ambiental. (Metropolis, 17/12/23)


A cultura da morte se fez presente na atitude do empresário, que mesmo tendo todas as portas de sua mansão blindadas, e com os policiais devidamente identificados, onde faziam uma investigação de um roubo que ocorreu em uma casa vizinha, utilizou sua arma para atirar na policial, pensando se tratar de ladrões.  É a lógica de que “bandido bom é bandido morto.”  No conforto de sua “prisão” de luxo, com homens armados, na sua cultura de morte, ao matar também morreu juntamente com seu segurança.


As principais vítimas desta política armamentista desastrosa, são a população pobre dos bairros da periferia, mas setores da classe média e moradores de bairro nobre também são atingidos como o caso desse empresário. É claro que essa tragédia não resultará em outras intervenções policiais nesse bairro rico, provocando dezenas de mortes, como acontece em bairros populares. É evidente que não está errado, é preciso preservar vidas, mas a segurança pública deveria agir da mesma forma com todos.


O aumento de armas em circulação só serve para agravar a situação, parte do armamento vai para as mãos das milicias e de outros grupos criminosos e outra parte fica nas mãos de pessoas violentas e despreparadas provocando mortes desnecessárias. Em 2022 existia 783.385 Certificados de Registro (CR) ativos para as atividades de caçador, atirador e colecionador (CAC). Entre 2018 e 2022 houve um crescimento de 665.918 CR concedidos/ativados. Em 2005 eram 13.378 CR de CAC. (Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2023).


As armas precisam ficar nas mãos das instituições de segurança pública do estado, respeitando a constituição e a legislação em vigor.  A cultura da morte seguramente não é solução para a construção da paz, pelo contrário é a verdadeira morte da democracia e dos direitos fundamentais do ser humano.


*Álvaro Gomes é diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ