A falsa medida da eficiência
Álvaro Gomes fala sobre falsa eficiência policial
A extrema direita mede a eficiência de uma operação policial pelo número de cadáveres de pobres, negros e jovens. A Operação Contenção foi um desastre total, 121 mortes, pânico na cidade e nenhum resultado efetivo no combate à criminalidade. Ocorreu um teatro programado para matar pessoas e criar a impressão de que o problema da segurança pública está sendo resolvido. Por que o governador resolveu apelar para uma ação violenta do Estado nas favelas, sacrificando dezenas de pessoas, inclusive policiais?
Há uma hipótese bem provável: ganhar o apoio da opinião pública e abrir espaço para as milícias que vêm perdendo terreno para o Comando Vermelho. Elas em 2020 controlavam 57% do território do Rio de Janeiro. Agora, menos da metade. O CV reconquistou a liderança de 242 km² perdidos para as milícias em 2021 (Agência Brasil, 15/04/25).
Não é novidade que as milícias têm uma relação bem próxima com a estrutura do governo do estado. Não só financiam como os milicianos, já são hoje parlamentares das três esferas do Parlamento. O combate ao crime organizado não ocorre de forma efetiva porque em algumas situações os criminosos estão na própria estrutura governamental. Vejamos o caso de Marielle, onde o delegado-chefe da polícia civil do Rio de Janeiro, na época, Rivaldo Barbosa, foi preso em 2024 sob acusação de ter planejado o assassinato a mando dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão. Isso só foi possível porque a investigação foi feita pela Polícia Federal.
A operação Contenção apreendeu 93 fuzis, com 121 mortes. Na casa do amigo do miliciano Ronnie Lessa, assassino de Marielle e vizinho de Bolsonaro, em 2019, foram encontrados 117 fuzis, ninguém morreu. Fala-se em apreensão de um volume considerável de drogas, seguramente menor do que os 39kg de cocaína encontrados em 2019 no avião da comitiva presidencial de Bolsonaro e os 290Kg de maconha apreendidos no avião da igreja do Evangelho Quadricular, cujo responsável é o tio da senadora Damares em 2023. Sem falar nos 30kg de maconha apreendido pela PF no carro do primo de Nicolas Ferreira, sem nenhuma baixa. (Uol,30/05/2025)
A eficiência do combate ao crime organizado se dá atacando a raiz do problema. Não se mede pelo número de mortos. Os defensores e executores da pena de morte são aqueles que, incrustados em organizações criminosas e na estrutura institucional, defendem os piores bandidos entre os quais os que tentaram dar um golpe de Estado e suprimir a democracia no Brasil. São criminosos autodenomidados “cidadãos de bem”.
*Álvaro Gomes é diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ
