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Futuro da Caixa passa por pessoas, tecnologia e recursos para investimentos

No artigo, a ex-presidente da Caixa e empregada de carreira do banco, Rita Serrano, faz uma análise sobre o futuro da Caixa a partir do lucro registrado pela empresa.

Não é preciso voltar muito no tempo. Em 2016, as estatais estavam sendo desmanteladas. A ordem era privatizar. Independente de sua atuação e de sua importância para o país.


A Caixa, o maior banco público da América Latina; principal parceiro do Governo Federal na execução das políticas públicas, estava na mira.


Entre 2016 e 2021, a Caixa perdeu participação de mercado no crédito livre. Passou de 12,59% para 5,85%. Não foi só isso. O banco viu sua participação na poupança cair de 37,6% para 35,4% do mercado. No CDB, de 4,2% para 2,7%.


O lucro da CAIXA, entre 2017 e 2021, foi influenciado por operações não recorrentes, em especial, pela venda de ativos como: ações da Petrobras, IRB e Banco Pan, além de abertura de capital da Caixa Seguridade.


Não satisfeitos, em 2022, a Caixa viveu grande crise institucional com denúncias de assédio sexual contra seu principal dirigente. Não só isso: foi gestora de programas controversos como consignado do Auxílio Brasil.


Tudo isso muda a partir de 2023, com a ascensão do governo Lula. As empresas estatais voltam a ter protagonismo e serem parte importante no desenvolvimento social e econômico do país. E os resultados logo aparecem.


O balanço de 2023 mostra que o desafio de buscar resultados sem renunciar à missão da CAIXA como banco social, sem se desfazer de ativos, foi vitorioso.


A Caixa alcançou resultados excepcionais, fazendo o que os outros bancos não fazem. Numa conjuntura desfavorável de juros altos e maior inadimplência, ampliou o crédito, cresceu sua participação no mercado em vários segmentos e ainda deu conta de atender aos beneficiários de programas sociais e do Minha Casa Minha Vida.


O ano fechou com lucro líquido de R$ 11.733 bi, crescimento de 20% se comparado ao mesmo período de 2022, no lucro recorrente a evolução chegou a 15,5% É o maior crescimento proporcional em comparação com os grandes bancos.


A participação de mercado cresceu, com destaque para investimentos em habitação e recordes em infraestrutura. Em consequência, houve ampliação das políticas de impacto social, com geração de empregos e renda.


Foco relevante desse período, foi a humanização na política de pessoal, revisão dos programas internos de gestão de desempenho, melhoria nas regras de distribuição da PLR, e ampliação de políticas de combate ao assédio moral e sexual. A Caixa se posicionou no mundo como uma das poucas empresas com maioria de mulheres na alta administração. No final do ano, essa realidade já havia sido alterada, dado a mudança na direção do banco.


O esforço para superar as adversidades do passado foi coletivo, de toda a alta administração, do corpo funcional, que acreditou que era possível e se dedicou, da confiança dos clientes e do apoio do controlador.


Alicerce para uma nova Caixa foi construído, mas desafios ainda são grandes
Com o cenário de acirramento na concorrência com bancos digitais e problemas relacionados a manutenção dos recursos de poupança e FGTS (importantes fontes para manter os investimentos em Habitação e Infraestrutura), o banco tem urgência em avançar em tecnologia, transformação digital e buscar alternativas para suprir a necessidade de funding para garantir financiamentos de longo prazo.


Obvio que também é necessário refletir sobre a enorme instabilidade e falta de continuidade das operações gerada pela troca constante de dirigentes na administração.


Em 10 anos, a Caixa teve, contando com o atual, 8 presidentes. Em cada uma dessas gestões, praticamente toda a cadeia da hierarquia inferior foi substituída.  É necessário buscar equilíbrio entre os interesses do controlador, as negociações políticas e a garantia de uma gestão profissionalizada.


A consolidação do projeto de uma nova Caixa, passa por ações estruturantes e de gestão, tais como:


Investimentos em tecnologia e transformação digital;


reorientação dos negócios com foco no cliente;


adesão as políticas de sustentabilidade ambiental;


redimensionamento da rede de atendimento;


diminuição da rotatividade nos cargos de direção;


Aprimoramento das medidas para humanização das relações de trabalho, valorização da carreira, respeito a diversidade, garantia de proporcionalidade de mulheres e demais minorias nos cargos de gestão;


Intensificação das medidas contra assédio sexual e moral;


Políticas para sustentabilidade do Saúde Caixa e Funcef;


Proteção ao FGTS e as Loterias;


Busca de alternativas para o modelo de poupança;


Proteção contra iniciativas privatistas.


Essa reflexão é minha contribuição pela experiência como empregada de carreira, de anos como conselheira de administração e do período como presidenta.


Agradeço a todos que acreditam no potencial do que é público. A Caixa é um exemplo de empresa centenária, pública e a serviço da população brasileira.


Seguimos juntos!


*Rita Serrano é ex-presdiente da Caixa e empregada de carreira do banco