Home
>
Artigos

Centenário do escritor baiano Carlos Vasconcelos Maia

No artigo, a professora da UNEB, Doutoranda em Letras, Filismina Saraiva aborda o centenário do escritor baiano Carlos Vasconcelos Maia.

Em 2023 o escritor Carlos Vasconcelos Maia faria 100 anos! O baiano nasceu em Santa Inês, no dia 20 de março de 1923, no ano seguinte mudou-se para Salvador com a família, cidade palco de inúmeras histórias narradas por ele. Foi membro da Academia de Letras da Bahia, ocupando a cadeira 14, infelizmente não teve o reconhecimento merecido. Publicou seu primeiro livro de contos em 1946. Fez parte do movimento literário baiano Caderno da Bahia, juntamente com um grupo editou seis números de Caderno da Bahia: revista de cultura e divulgação (1948 a 1951). Publicou diversas crônicas em periódicos como o Jornal da Bahia e A Tarde, na categoria novela trouxe a público O leque de Oxum em 1961.


No Caderno da Bahia, Maia integrava um grupo formado por Cláudio Tuiti Tavares (poeta e jornalista), Darwin Brandão (jornalista), Wilson Rocha (poeta e crítico de arte). Mais tarde, se juntaram a eles Heron de Alencar, Mota e Silva, Adalmir da Cunha Miranda, Jair Gramacho, Pedro Moacir Maia. Entre os membros havia ilustradores e artistas plásticos iniciantes: Mário Cravo Júnior, Carlos Bastos, Genaro de Carvalho, Hélio Vaz, Genner Augusto, Lygia Sampaio, Ladislau Bartk e Rubem Valentim. Também fizeram parte o músico Paulo Jatobá e o crítico de cinema Walter da Silveira.


O intuito dos jovens não era romper com o passado, mas com a “mesmice” acadêmica. Pretendiam integrar a cultura marginal à legitimada. A ligação com o passado fez Maia descrever, na maioria de seus contos, uma Salvador de arquitetura barroca e colonial em conflito com a nova cidade industrializada. Dentro deste impasse, preferiu falar do povo pobre e marginalizado, que se confundia com o povo negro. Transitava entre o mundo dos intelectuais e o do povo, entre os que pensavam a modernização das artes e entre festas populares e candomblés.


No Ilê Axé Opô Afonjá, o filho de Oxalá recebeu o cargo de Otun Ojuobá - à direita dos olhos de Xangô. Essa inserção do autor no mundo negro vai aos poucos fazer diferença na criação de suas personagens, culminando na escrita da novela O leque de Oxum, a qual traz o universo do Culto aos Ancestrais em Terreiros da Ilha de Itaparica e a mitologia afro-brasileira como uma forma de representação do negro dentro da sua cosmogonia. Os mitos explicam os destinos dos protagonistas. A obra ganhou prefácio do amigo Jorge Amado.


Além da vida literária, o autor teve uma carreira voltada para o turismo, dirigiu o órgão oficial de turismo de Salvador de 1958 até 1964. Depois, foi Assessor de Turismo da Companhia de Navegação Baiana em 1967, entretanto nunca abandonou sua paixão pela literatura. Seu amor pela Cidade da Bahia e pelo povo eternizou-se em contos, crônicas e novela. Viva Vasconcelos Maia!


* Filismina Fernandes Saraiva é professora da UNEB, Doutoranda em Letras - PPGEL-UNEB