Prêmio Nobel da Guerra
No artigo, Carlos Pronzato fala sobre controversia do Comitê Norueguês do Nobel
A dinamite, forma mais segura de utilizar o poder explosivo da nitroglicerina, foi patenteada em 1867, entre outras 355 patentes, pelo químico, engenheiro e inventor sueco Alfred Nobel (1833-1896). Doou a sua fortuna, advinda das suas fábricas de explosivos em diversos países europeus e também nos EUA, para a criação do prêmio que leva o seu nome. O da Paz, o seu mea culpa, é a máxima expressão da origem moral do prêmio, já que foi acusado de que seu invento, além de utilizado na mineração, foi determinante para impulsionar guerras e assim deixou constância no seu testamento:
“...para alguém que dará uma contribuição significativa para a reconciliação dos povos, a redução do número de exércitos existentes e a promoção de um acordo de paz”.
Em 1973, o diplomata norte-vietnamita Lê Durc Tho (1911-1990) foi a única pessoa a recusar o Prêmio Nobel da Paz. O prêmio foi concedido de forma conjunta a ele e ao Secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger (1923-2023) pelo cessar-fogo na Guerra do Vietnã (1955-1975). O motivo foi que o seu homólogo violou a trégua e a guerra continuou. Em onze dias, 100 mil bombas foram jogadas no Vietnã, cujo poder destrutivo equivale a cinco vezes ao da bomba atômica de Hiroshima (1945). Assim como hoje o mundo condena o Estado sionista de Israel pelo genocídio do povo palestino em Gaza, os jornais condenaram aquele bombardeio também como genocídio, selvagem e sem sentido.
Muitas controvérsias rodeiam o Nobel da Paz, mas o maior de todos os absurdos foi não o ter concedido ao estadista, ativista, líder espiritual e anticolonialista, símbolo da não violência no século XX, Mahatma Gandhi (1869-1948), apesar do seu nome ter sido indicado em cinco oportunidades.
O Prêmio concedido em 10 de outubro à líder da extrema direita venezuelana Corina Machado, é mais um capítulo controverso do Comitê Norueguês do Nobel. Num certo sentido, foram espertos, porque o prêmio, funcionando como luz verde para a invasão estadunidense à Venezuela, não foi entregue a Trump, mas sim à sua operadora política. Corina apoiou o golpe que apenas durou 48 horas, em 2002, contra Chávez (que retornou à presidência nos braços do povo) e agora novamente (durante a autoproclamação do Juan Guaidó, em 2019, fez o mesmo) promove abertamente uma intervenção armada no seu país, além de pressionar por sanções econômicas que estrangulam a economia e “matam mais pessoas do que as guerras, ao cortar acesso a remédios e alimentos de populações inteiras” como disse Michelle Ellner, da CODEPINK, Womem for Peace.
Não é a primeira e nem será a última vez que o Prêmio é concedido a quem promove guerras utilizando a dinamite que levou Alfred Nobel a criar o Prêmio Nobel da Paz.
* Carlos Pronzato é cineasta, diretor teatral, poeta e escritor. Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). [email protected]