“O Brasil continua oligárquico”
Autor do documentário “Facada ou fakeada?”, no qual cita 10 perguntas não respondidas nas investigações sobre o suposto atentado em setembro de 2018 contra o então candidato a presidente, Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG), o jornalista Joaquim de Carvalho foi um dos palestrantes da 27ª Conferência dos Bancários da Bahia e Sergipe, realizada de 18 a 20 de julho, em Salvador.
Autor do documentário “Facada ou fakeada?”, no qual cita 10 perguntas não respondidas nas investigações sobre o suposto atentado em setembro de 2018 contra o então candidato a presidente, Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG), o jornalista Joaquim de Carvalho foi um dos palestrantes da 27ª Conferência dos Bancários da Bahia e Sergipe, realizada de 18 a 20 de julho, em Salvador.
Ele falou sobre a importância da mídia alternativa para a afirmação da democracia e, em entrevista exclusiva para O Bancário, disse que “o Brasil é um país oligárquico, com períodos democráticos”. Destacou o caráter golpista das elites e a necessidade de o governo abrir novos mercados para superar o tarifaço de Trump.
Rogaciano Medeiros
O Bancário: A democracia no Brasil ainda corre perigo?
Joaquim de Carvalho: Sim, corre perigo, como sempre correu. Historicamente. Em 1823, Dom Pedro I dissolveu a Assembleia Constituinte, no ato que ficou conhecido como Noite da Agonia, porque não aceitava a soberania popular. Dom Pedro I entendia que a soberania deveria ser compartilhada, entre o povo e o imperador. Em 1889, a Proclamação da República foi um golpe da elite. Tivemos outros golpes, como o movimento que em 1954 Getúlio ao suicídio, a ditadura de 1964, a farsa do impeachment em 2016 e agora tentativa de golpe, em 2022. O Brasil é, efetivamente, um país oligárquico, com períodos de democracia. Ainda assim, uma democracia tutelada, antes pelo imperador, depois pelos militares. Estamos escrevendo uma nova página da nossa história e espero que consolidemos a democracia.
O Bancário: Onde mora o perigo?
Joaquim de Carvalho: No movimento das elites, que controlam os meios de comunicação corporativos. Na verdade, os donos das empresas de comunicação fazem parte da elite e também não aceitam a soberania popular. Até certo ponto, toleram. Mas acabam apoiando golpes, como em 2016 e também em 2018, quando Lula foi impedido de se candidatar.
O Bancário: Até que ponto o tarifaço de Trump pode afetar a economia brasileira e causar retrocesso no Estado Democrático de Direito?
Joaquim de Carvalho: No primeiro momento, se Trump não recuar, teremos prejuízo em alguns setores da economia, como agro, a Embraer e a indústria química. Mas o Brasil tem força e prestígio (com Lula) para abrir novos mercados. O problema é a elite aceitar a pressão dos EUA e pressionar pelo derrubada do governo, seja numa eleição com a força do poder econômico, ou seja, por "bruxarias", como o impeachment de Dilma em 2016 ou a prisão política de Lula em 2018. São golpes com aparência de legalidade.
O Bancário: As ameaças de Trump têm força ao ponto de impedir as prisões de Bolsonaro e demais golpistas?
Joaquim de Carvalho: Não creio. O Brasil teria sua falência institucional se cedesse a Trump.
O Bancário: Como você avalia os impactos das agressões de Trump na corrida presidencial brasileira do próximo ano?
Joaquim de Carvalho: Se o Brasil não conseguir abrir novos mercados ou não obter o recuo de Trump, poderá haver desemprego, e, com o tempo, com apoio da mídia corporativa, a elite deve colocar a culpa em Lula, para desgastá-lo eleitoralmente. Porém, se o Brasil demonstrar resiliência na área econômica e abrir novos mercados (creio que ocorrerá isso), Lula se fortalece. Penso que o Brasil se fortalecerá.
O Bancário: Falta mobilização popular para neutralizar mais rápido a escalada da extrema direita?
Joaquim de Carvalho: Sim, os democratas precisam ocupar de novo as ruas e também as redes sociais. Já está ocorrendo isso, mas ainda timidamente. Como disse Castro Alves, a praça é do povo como o céu é do condor. Votemos às ruas,
O Bancário: Quais as novidades da fakeada?
Joaquim de Carvalho: Este é um tema tabu para as instituições brasileiras, inclusive pela esquerda que ocupa postos importantes. Adélio Bispo de Oliveira está tendo sua saúde mental agravada, com isolamento em presídio de segurança máxima. Há muitas perguntas ainda sem resposta. Entendo que o caso deveria ser reaberto, para uma investigação do autoatentado, que é plausível segundo me falou, em off, uma alta autoridade que participou do inquérito.