Negros seguem no alvo
A bala continua tendo cor no Brasil. O corpo negro continua sendo território permitido para o avanço da violência, como se a morte fosse parte do destino reservado a quem nasceu para fora dos muros da elite. Não é coincidência, é projeto. É o resultado de séculos de exclusão, abandono institucional e um racismo que nunca deixou de ser política oficial.
Por Camilly Oliveira
A bala continua tendo cor no Brasil. O corpo negro continua sendo território permitido para o avanço da violência, como se a morte fosse parte do destino reservado a quem nasceu para fora dos muros da elite. Não é coincidência, é projeto. É o resultado de séculos de exclusão, abandono institucional e um racismo que nunca deixou de ser política oficial.
O Atlas da Violência escancarou que em 2023, uma pessoa negra teve risco 2,7 vezes maior de ser assassinada do que uma branca. Foram mais de 35 mil pretos ou pardos mortos. Entre os brancos, menos de 10 mil. A desigualdade na taxa de homicídios não diminuiu, pelo contrário, cresceu, apesar da queda no número total de mortes. A ferida continua aberta, mas agora mais exposta.
O abismo é sustentado por um cotidiano onde a juventude está mais exposta ao abandono escolar, à informalidade, à violência policial e à ausência de oportunidade. Quem mora na periferia, tem pele escura e vive de salário mínimo é descartável para um sistema que mata devagar ou de uma vez só.
Leis foram criadas, políticas surgiram, discursos mudaram. Mas enquanto a estrutura racista continuar intacta, os corpos negros seguirão tombando. O país que inventa desculpas para cada vida perdida precisa, antes de tudo, escolher parar de matar.