Sistema de saúde contaminado: Abandono da APS

O movimento revela mais do que uma simples estatística: é um termômetro da desigualdade estrutural que marca o sistema de saúde brasileiro.

Por Julia Portela

Os números assustam. Em apenas dois anos (2022/2024), quase 34% dos médicos deixaram a Atenção Primária à Saúde. A situação é mais grave nos estados com menor PIB per capita. A rotatividade de profissionais cresce e muitos migram para grandes centros urbanos.

 

 

Não por acaso, estados como Rio de Janeiro, São Paulo e o Distrito Federal, que concentram os maiores PIBs per capita do país, registram os menores índices de evasão médica. Já Maranhão e Paraíba, entre os estados mais pobres, enfrentam os maiores percentuais de saída de profissionais da saúde.

 

 

O movimento revela mais do que uma simples estatística: é um termômetro da desigualdade estrutural que marca o sistema de saúde brasileiro. A lógica capitalista, que transforma o cuidado em mercadoria e a saúde em privilégio, empurro médicos para os centros urbanos e deixa à margem as populações das regiões mais vulneráveis.

 

 

Frente a esse desafio, o programa Mais Médicos voltou a ocupar um papel estratégico. Desde a retomada, em 2023, mais de 24 mil profissionais foram contratados, distribuídos em cerca de 4.200 municípios e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas, o que representa 77% do território nacional.

 

 

Somente em 2024, foram quase 7 mil novas adesões. A reconstrução de uma política pública que valoriza a saúde como direito passa, necessariamente, pela ruptura com a lógica ultraliberal que enxerga eficiência apenas onde há lucro.