Queda na natalidade é consequência do sistema

A crise de fecundidade não nasce das escolhas individuais, mas das estruturas que forçam a desistência. Não há bônus de nascimento, como os adotados por países como a China, nem incentivo isolado que resolva o problema.

Por Camilly Oliveira

A redução nas taxas de nascimento não revela desinteresse das mulheres em serem mães, mas sim expõe um sistema que nega condições mínimas para a maternidade.

 


O que impede milhões de pessoas de terem filhos não é a falta de desejo, mas o peso das incertezas econômicas. Quando a sobrevivência se impõe como prioridade, o sonho da maternidade vira um luxo inacessível.

 


Segundo o relatório de 2025 do UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas), feito em 14 países que somam 37% da população mundial, 18% dos adultos com menos de 50 anos acreditam que não conseguirão ter o número de filhos que desejam.

 


Entre os com mais de 50, quase 31% afirmam ter tido menos do que gostariam. Os principais obstáculos são a renda insuficiente, a falta de um parceiro estável, o medo do futuro e o acesso precário à saúde sexual e reprodutiva.

 


A crise de fecundidade não nasce das escolhas individuais, mas das estruturas que forçam a desistência. Não há bônus de nascimento, como os adotados por países como a China, nem incentivo isolado que resolva o problema.

 


O que falta é compromisso com justiça social: trabalho digno, moradia acessível, educação pública, licença parental, creches e autonomia para decidir sobre o próprio corpo.