Hiperconectados e hiperdesinformados

O modelo transforma cada usuário em um emaranhado de microinformações, consumidas e processadas por algoritmos que não priorizam qualidade, mas tempo de permanência.

Por Julia Portela

Oito em cada 10 brasileiros conectados utilizam as redes sociais com frequência, segundo dados de 2024 do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.Br). O que parece uma simples interação digital, no entanto, esconde um sistema complexo e silencioso de vigilância e exploração de dados.

 

 

Enquanto os cidadãos navegam, as plataformas acumulam informações sobre hábitos, emoções, desejos e comportamentos sem qualquer consentimento.

 

 

O modelo transforma cada usuário em um emaranhado de microinformações, consumidas e processadas por algoritmos que não priorizam qualidade, mas tempo de permanência. A lógica do viral, muitas vezes rasa e desinformada, alimenta um ciclo de produção de conteúdo fast, que acelera o consumo e esvazia o senso crítico.

 

 

Não é coincidência: quanto mais tempo passamos conectados, mais dados entregamos e mais lucro as plataformas obtêm. O impacto direto dessa dinâmica é sentido no corpo e na mente: cansaço constante, ansiedade, esgotamento mental e uma sensação de desconexão com o mundo real.

 

 

Nas multitelas da era digital, as pessoas são bombardeadas por estímulos que sequestram a atenção e moldam a visão de mundo de forma enviesada. O conteúdo que aparece para cada pessoa não é neutro, é moldado para seduzir, viciar e manter o usuário dentro da bolha de consumo digital.

 

 

Apesar das evidências dos impactos nocivos, o debate segue apagado. Falar sobre os malefícios da hiperconexão não interessa ao modelo econômico ultraliberal, que lucra justamente com a exaustão do cidadão contemporâneo. Enquanto isso, a saúde física, emocional e psicológica é corroída.