Opressão com maquiagem fina

O sistema quer mulheres belas, produtivas e silenciosas. É preciso resistir a esse modelo que suga a energia feminina, a autoestima e a saúde mental. Questionar os padrões impostos é um ato político. Defender o direito das mulheres ao descanso, ao tempo, à liberdade e à pluralidade de corpos e idades é parte da luta por uma soc.iedade mais justa. 

Por Julia Portela

A juventude das mulheres virou mercadoria com prazo de validade. A partir dos 30 anos, elas começam a enfrentar um bombardeio silencioso: são tachadas de “velhas”, pressionadas a esconder qualquer sinal do tempo no corpo. É uma imposição cruel, que faz com que o envelhecer, processo natural da vida, se transforme em motivo de angústia e vergonha.

 


Essa lógica opressora não surge do nada: é alimentada por um sistema que lucra com a insegurança feminina e que transforma cada ruga em oportunidade de venda.

 


A indústria da estética se expande rapidamente, promovendo tratamentos “preventivos” para impedir que as marcas da idade apareçam. Clínicas estão cheias e cada vez mais jovens buscam intervenções antes mesmo de viverem plenamente. A promessa de juventude alimenta um mercado bilionário que transforma o corpo da mulher em projeto contínuo de aperfeiçoamento. Um corpo que não pode parecer cansado, que não pode ter sinais do tempo, que deve estar sempre pronto para o olhar e julgamento alheio.

 


É mais um braço do machismo aliado ao capitalismo: a mulher precisa ser boa profissional, cuidar da casa, dos filhos, manter a vida social ativa e ainda parecer impecável. Não pode parecer humana. A cobrança estética se soma à cobrança por produtividade, por sucesso, por estabilidade financeira, por casamento e filhos. Quando não cumpre esse roteiro, ou quando seu corpo “escapa” dos padrões impostos, a mulher é tratada como inadequada: velha demais, mesmo sendo jovem.

 


O sistema quer mulheres belas, produtivas e silenciosas. É preciso resistir a esse modelo que suga a energia feminina, a autoestima e a saúde mental. Questionar os padrões impostos é um ato político. Defender o direito das mulheres ao descanso, ao tempo, à liberdade e à pluralidade de corpos e idades é parte da luta por uma soc.iedade mais justa.