Salvador perde o verde e a cidade perde o ar
O Diagnóstico da Vegetação do Bioma Mata Atlântica em Salvador, apresentado ainda em 2016 pelo Ministério Público da Bahia, identificou mais de 5 mil áreas remanescentes de vegetação, das quais 3 mil em estágio médio de conservação.
Por Julia Portela
O verde de Salvador está sendo trocado por concreto, lucro e especulação imobiliária. E quem paga essa conta é o povo: com menos sombra, menos ar puro e menos qualidade de vida.
O Diagnóstico da Vegetação do Bioma Mata Atlântica em Salvador, apresentado ainda em 2016 pelo Ministério Público da Bahia, identificou mais de 5 mil áreas remanescentes de vegetação, das quais 3 mil em estágio médio de conservação. Em outras palavras: áreas que ainda poderiam ser salvas. Mas, ao que parece, interesses privados têm falado mais alto do que o futuro coletivo.
A maior ameaça a essas áreas é conhecida e tem nome: expansão imobiliária predatória, apoiada por um modelo de cidade que favorece o lucro. Preservar vegetação em uma capital como Salvador tem se tornado um ato de resistência. A especulação pressiona, a legislação cede e o poder público entrega. Terrenos públicos são vendidos, áreas verdes aterradas e no lugar da sombra entra o asfalto quente, o cimento e o “progresso” para poucos.
O resultado? Animais silvestres expulsos de seus habitats aparecem em meio a condomínios de luxo. Fontes naturais são soterradas. O clima muda. Bairros inteiros perdem qualidade de vida. O que antes era uma área verde usada pela comunidade para lazer e bem-estar, vira loteamento. A sombra vai embora. O calor aumenta. O ar puro desaparece. E a população, sobretudo das periferias, adoece. São os impactos diretos no microclima urbano, no convívio social e na saúde coletiva.
Em 2023, a situação se agravou: a Câmara Municipal de Salvador aprovou projeto do prefeito Bruno Reis (União Brasil) que autorizou a desafetação de 40 terrenos públicos, abrindo caminho para mais negócios privados sobre áreas públicas. O que era de uso coletivo vira produto de mercado. É a política do “quem pode mais, constrói”.