Geração Z e o peso de viver sem perspectivas

A famosa “curva em U da felicidade”, que sugeria um pico de otimismo na juventude seguido por uma crise apenas aos 40, deu lugar a uma linha descendente precoce. Nos Estados Unidos, ícone do modelo ultraliberal baseado no consumo e no individualismo, a chamada “corcova do desespero” já aparece aos 20 anos. Não à toa, o país é o primeiro no ranking de jovens em colapso emocional. 

Por Camilly Oliveira

Ser jovem virou um peso que chega cedo demais. Uma pesquisa da universidade Dartmouth College, publicada na revista científica PLOS One, com mais de 2 milhões de pessoas em 44 países mostra que a juventude deixou de ser o período mais feliz da vida.

 


A famosa “curva em U da felicidade”, que sugeria um pico de otimismo na juventude seguido por uma crise apenas aos 40, deu lugar a uma linha descendente precoce. Nos Estados Unidos, ícone do modelo ultraliberal baseado no consumo e no individualismo, a chamada “corcova do desespero” já aparece aos 20 anos. Não à toa, o país é o primeiro no ranking de jovens em colapso emocional. 

 


Mas, o problema não é isolado. No Brasil, 45% da geração Z tem sintomas de ansiedade e depressão, conforme dados da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). O comprometimento da saúde mental está enraizado no modelo ultraliberal imposto pelos governos Temer e Bolsonaro. 

 


Desde o desmonte dos direitos, a partir de 2017, os jovens chegam à vida adulta com salários precarizados, dívidas estudantis impagáveis e o horizonte sombrio da emergência climática. No Brasil, 36% das pessoas entre 18 e 24 anos estão desempregadas ou na informalidade, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).  

 


Trata-se de uma geração esmagada por um sistema que promete liberdade, mas entrega insegurança permanente, individualismo e esgotamento. O discurso dominante culpa as redes sociais, mas esta é apenas a ponta do iceberg. É obvio que a hiperconexão amplifica a comparação e a solidão, mas o buraco é mais fundo, se está diante de uma geração que sabe que dificilmente terá aposentadoria, que arcará com os efeitos mais brutais da crise climática e que cresce em sociedade cada vez mais desigual e sem empatia.