Não contavam com a força do povo
A força da mobilização popular surpreendeu os articuladores da proposta, que apostavam na apatia social para aprovar a PEC em silêncio.
Por Julia Portela
A resposta das ruas foi contundente. As manifestações realizadas no último domingo (21), em 33 cidades e 23 capitais, deixaram claro que o povo não aceitará calado a tentativa de blindar corruptos e criminosos de terno. A chamada PEC da Blindagem ou PEC da Bandidagem, escancarou o projeto autoritário e antidemocrático em curso no Congresso, liderado por setores do centrão aliados à extrema direita.
A força da mobilização popular surpreendeu os articuladores da proposta, que apostavam na apatia social para aprovar a PEC em silêncio. A repercussão foi tão negativa que senadores já falam em barrar o avanço da medida nesta semana, temendo o desgaste político e o impacto direto na agenda de anistia aos golpistas do 8 de janeiro.
Ao contrário do que se imaginava nos bastidores, a revolta nas ruas não se limitou à tentativa de anistiar Bolsonaro. As duas pautas: a blindagem parlamentar e o perdão aos golpistas caminham juntas, pois fazem parte da mesma ofensiva contra a democracia e contra os direitos do povo.
O incômodo nos gabinetes é evidente. Enquanto o centrão tenta medir o estrago e conter danos, bolsonaristas ensaiam um falso recuo, alegando arrependimento pelo apoio à PEC. Mas não há recuo real — há cálculo político, porque sabem que o debate público expôs o que tentavam aprovar na surdina.
A reação popular mostrou que não há mais espaço para manobras que garantem impunidade aos de cima. Quem ataca a democracia por dentro das instituições encontrará resistência organizada fora delas.