Longevidade é política pública

Menos fome significou menos doenças evitáveis, maior desenvolvimento infantil e mais anos de vida. O aumento da expectativa de vida revela, assim, um país que vive mais quando enfrenta desigualdades e reconhece que democracia se mede, também, pela capacidade de proteger a existência.

Por Camilly Oliveira

O Brasil levou décadas para virar a chave da sobrevivência para a longevidade. Nos anos 1960, a expectativa de vida pouco superava 54 anos. Em 2025, alcança cerca de 76,8 anos, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O salto nasce de decisões políticas que ampliaram o alcance do Estado, fortaleceram a saúde pública e consolidaram direitos sociais como pilares da democracia.


A queda da mortalidade infantil ocupa lugar central nesta virada histórica. Em 1990, o país registrava 47 mortes a cada mil nascidos vivos. Em 2022, esse número caiu para aproximadamente 12, segundo dados do Ministério da Saúde e da Unicef. A ampliação da vacinação, por meio do Programa Nacional de Imunizações, conteve doenças que dizimavam crianças. O SUS (Sistema Único de Saúde) garantiu pré-natal, parto assistido e atenção básica em territórios antes abandonados, transformando o direito à vida em política pública concreta.


 

A longevidade também avançou quando a extrema pobreza recuou. Estudos do IBGE indicam que políticas de transferência de renda e valorização do salário mínimo retiraram milhões da miséria nas últimas décadas. Menos fome significou menos doenças evitáveis, maior desenvolvimento infantil e mais anos de vida. O aumento da expectativa de vida revela, assim, um país que vive mais quando enfrenta desigualdades e reconhece que democracia se mede, também, pela capacidade de proteger a existência.