Educação pública paga a conta do ajuste
A restrição orçamentária ameaça esse atendimento e empurra milhares de jovens à evasão, reforçando a lógica elitista que transforma a educação superior em privilégio e não em direito.
Por Julia Portela
A aprovação dos cortes no orçamento das universidades federais para 2026 evidencia a permanência de uma lógica de ajuste fiscal que sacrifica direitos sociais e o futuro do país. A Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) denuncia que a decisão do Congresso Nacional, durante a tramitação da LOA (Lei Orçamentária Anual), impõe perdas significativas ao sistema público de ensino superior, atingindo diretamente estudantes da classe trabalhadora.
O orçamento destinado às 69 universidades federais sofreu redução de 7,05%, o que representa um corte de R$ 488 milhões. A diminuição dos recursos compromete o funcionamento das instituições, afeta atividades básicas de ensino, pesquisa e extensão e aprofunda desigualdades entre universidades, sobretudo aquelas localizadas em regiões historicamente mais vulnerabilizadas.
A assistência estudantil concentra um dos ataques mais severos. O corte de aproximadamente R$ 100 milhões, equivalente a 7,3% da área, coloca em risco a execução da Pnaes (Política Nacional de Assistência Estudantil), fundamental para garantir a permanência de estudantes de baixa renda no ensino superior público. Trata-se de uma política que enfrenta a exclusão social e amplia o acesso da juventude trabalhadora à universidade.
Em 2024, cerca de 400 mil estudantes foram atendidos por ações de assistência, como bolsas, alimentação e moradia. A restrição orçamentária ameaça esse atendimento e empurra milhares de jovens à evasão, reforçando a lógica elitista que transforma a educação superior em privilégio e não em direito.
O cenário se agrava com cortes simultâneos na Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). A falta de recomposição orçamentária compromete a produção científica, enfraquece a soberania nacional e revela que, mais uma vez, o ajuste fiscal recai sobre educação, ciência e os interesses da maioria da população.
