Brasileiro sabe ler, mas não entende
Um país onde quase um terço da população adulta não entende o que lê está condenado a repetir os mesmos erros. O Brasil continua afundado no analfabetismo funcional. Reflexo de um projeto de poder que prefere pessoas desinformadas a politizadas.
Por Camilly Oliveira
Um país onde quase um terço da população adulta não entende o que lê está condenado a repetir os mesmos erros. O Brasil continua afundado no analfabetismo funcional. Reflexo de um projeto de poder que prefere pessoas desinformadas a politizadas.
Um povo que não entende uma manchete, bula, planilha ou um discurso não consegue exercer plenamente a cidadania, muito menos defender direitos. Há voto manipulado, opinião terceirizada e uma democracia frágil.
Segundo dados do Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional), 29% dos brasileiros entre 15 e 64 anos seguem sem habilidades básicas de leitura, escrita e cálculo. A pesquisa aponta retrocesso também entre os jovens, com 16% dos brasileiros entre 15 e 29 anos analfabetos funcionais.
Nas universidades, os dados assustam ainda mais: 39% dos alunos que chegaram ou passaram pelo ensino superior não atingiram o nível mais alto de alfabetismo. Um em cada quatro brasileiros com ensino médio mal consegue ler uma tabela ou interpretar uma opinião simples.
É a prova de que a escola virou linha de montagem: empurra conteúdo, entrega diploma e forma adultos com baixa autonomia crítica. Educação de fachada.
Pretos e pardos são os mais afetados: só 31% alcançaram os dois níveis mais altos de alfabetismo, contra 41% entre os brancos. O analfabetismo funcional não é um detalhe técnico, é um projeto político que limita o pensamento, silencia as periferias e desidrata a democracia. Quem não domina o básico vira presa fácil de fake news, discursos prontos e líderes autoritários. Um país que marginaliza o saber, acaba com o futuro.