Intoxicação faz parte do modelo ultraliberal

A realidade do campo brasileiro revela um cenário alarmante: a intoxicação por agrotóxicos tem se tornado uma tragédia silenciosa. De acordo com o relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), mais de 17 mil famílias foram contaminadas nos últimos anos. Contudo, a subnotificação estrutural dos casos escancara o abismo entre os números oficiais e a verdadeira dimensão do problema.

Por Julia Portela

A realidade do campo brasileiro revela um cenário alarmante: a intoxicação por agrotóxicos tem se tornado uma tragédia silenciosa. De acordo com o relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), mais de 17 mil famílias foram contaminadas nos últimos anos. Contudo, a subnotificação estrutural dos casos escancara o abismo entre os números oficiais e a verdadeira dimensão do problema.

 


O modelo agroexportador ultraliberal, que prioriza o lucro e a competitividade internacional a qualquer custo, sustenta-se com base nesse envenenamento em massa. O uso intensivo de agrotóxicos é parte integrante da lógica de produção voltada para o mercado externo, que impõe o lucro acima da vida, especialmente quando é a do trabalhador rural.

 


O SUS (Sistema Único de Saúde) cumpre um papel central na resistência ao modelo. Quando as famílias chegam aos hospitais com sintomas de intoxicação, têm o direito de denunciar o uso abusivo de agrotóxicos. As notificações, encaminhadas ao Ministério da Saúde por meio do Sistema Nacional de Agravos de Notificação Compulsória (Sinan), são fundamentais para que os casos não caiam na impunidade.

 


No entanto, o caminho até a denúncia é atravessado por inúmeros obstáculos: falta de estrutura adequada, ausência de incentivos, desinformação e, principalmente, o medo de retaliações. Assim, muitas vítimas permanecem silenciadas até as últimas consequências.