A seca não é destino, é descaso

A seca do sertão baiano em 2025 não é um evento isolado, mas escancara a permanência de uma estrutura social arcaica que ainda empurra milhões de pessoas para a escassez, com casas de taipa, acesso precário à água e um abandono histórico do poder público. Enquanto o agronegócio exporta lucros irrigados por pivôs centrais, no sertão, a terra racha, os açudes secam e o povo resiste com o mínimo. Não faltam alertas, mas políticas públicas estruturantes e eficazes.

Por Camilly Oliveira

A seca do sertão baiano em 2025 não é um evento isolado, mas escancara a permanência de uma estrutura social arcaica que ainda empurra milhões de pessoas para a escassez, com casas de taipa, acesso precário à água e um abandono histórico do poder público. Enquanto o agronegócio exporta lucros irrigados por pivôs centrais, no sertão, a terra racha, os açudes secam e o povo resiste com o mínimo. Não faltam alertas, mas políticas públicas estruturantes e eficazes.

 


Mais de 2 milhões de pessoas já foram afetadas somente este ano, com 76 cidades em situação de emergência reconhecida pelo governo federal, sobretudo no sudoeste do estado. A tragédia climática revela o abismo entre regiões e interesses. 

 


Fenômenos como El Niño apenas potencializam o colapso, mas não explicam por si só a falência dos sistemas de abastecimento. A estiagem não castiga igual, pesa mais sobre quem vive há décadas sem saneamento, cisterna ou crédito agrícola justo.

 


A lógica que mantém o semiárido na escassez é a mesma que naturaliza a fome e marginaliza o povo sertanejo. A seca é usada, historicamente, como moeda política, na qual soluções emergenciais se sobrepõem a projetos de longo prazo. Enquanto isto, a dignidade segue mofando sob o barro das casas de pau a pique e o silêncio das elites baianas.