Mulheres empreendem sob dívida e sem apoio

Por trás dos números que celebram o empreendedorismo, há uma base frágil, onde muitas mulheres — especialmente as negras — colocam a própria vida em estado de alerta permanente, sem segurança, sem garantias e sem apoio. Têm mais crédito negado, menos acesso a garantias e enfrentam o racismo e o machismo institucionalizados em todo o sistema financeiro. Essa estrutura não é falha: ela foi construída para concentrar riqueza no topo e negar oportunidades a quem está na base.

Por Julia portela

A jornada empreendedora das mulheres no Brasil segue marcada por desigualdades estruturais e entraves financeiros. Segundo pesquisa da Serasa em parceria com a Opinion Box, 87% das mulheres empreendedoras já foram ou estão com o nome negativado. Além disso, 68% tiveram pedidos de crédito recusados, o que limita drasticamente o crescimento de seus negócios.

 


Neste cenário, é fundamental romper com a falsa narrativa de que o empreendedorismo feminino é, por si só, sinal de autonomia e sucesso. Muitas mulheres empreendem não por escolha, mas por sobrevivência — diante da ausência de empregos formais, da sobrecarga em casa e da negligência do Estado. O discurso liberal do “empoderamento pelo empreendedorismo” ignora a realidade concreta da precariedade e da falta de políticas públicas de suporte.

 


Por trás dos números que celebram o empreendedorismo, há uma base frágil, onde muitas mulheres — especialmente as negras — colocam a própria vida em estado de alerta permanente, sem segurança, sem garantias e sem apoio. Têm mais crédito negado, menos acesso a garantias e enfrentam o racismo e o machismo institucionalizados em todo o sistema financeiro. Essa estrutura não é falha: ela foi construída para concentrar riqueza no topo e negar oportunidades a quem está na base.

 


É preciso fortalecer políticas públicas específicas, com acesso facilitado a crédito, formação gratuita, segurança social e redistribuição do trabalho do cuidado. Empreender com dignidade só é possível quando o sistema deixa de oprimir e passa a garantir direitos.