O Brasil falho com mulheres negras
A pesquisa analisou 19,4 milhões de vínculos empregatícios em 54 mil empresas, com base na Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e, apesar do crescimento de 11% no número de mulheres contratadas, a distância salarial é quase intacta. Entre homens e mulheres de modo geral, a diferença segue na casa dos 20%, sem avanços concretos desde o primeiro relatório em 2023.
Por Camilly Oliveira
O abismo salarial entre mulheres negras e homens brancos mostra a face mais cruel da desigualdade brasileira. Mesmo após décadas de luta por direitos iguais e do avanço dos discursos de inclusão, o mercado de trabalho ainda reproduz as mesmas hierarquias raciais e de gênero.
Segundo o 4º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, divulgado pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), mulheres negras recebem, em média, 53,3% menos do que homens brancos, são R$ 2.986,50 contra R$ 6.391,94. O dado prova que, no país no qual o discurso da igualdade é celebrado, a prática ainda é bem seletiva.
A pesquisa analisou 19,4 milhões de vínculos empregatícios em 54 mil empresas, com base na Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e, apesar do crescimento de 11% no número de mulheres contratadas, a distância salarial é quase intacta. Entre homens e mulheres de modo geral, a diferença segue na casa dos 20%, sem avanços concretos desde o primeiro relatório em 2023.
Além disto, mulheres negras ocupam os postos mais precarizados e são sub-representadas nos cargos de liderança e decisão, sustentando a pirâmide que privilegia o topo sempre branco e masculino.
Quando o recorte racial entra na conta, a injustiça amplia. Enquanto mulheres brancas têm média salarial de R$ 4.490,21, as negras recebem pouco mais da metade. A diferença também é evidente entre os homens: trabalhadores negros ganham cerca de 37% menos do que brancos. E mesmo com o aumento de 21% nas empresas que contratam ao menos 10% de mulheres negras, a presença delas ainda é minoritária nos espaços de poder.
Estados do Sul e Sudeste concentram as maiores diferenças salariais, ultrapassando 27%, enquanto regiões como o Nordeste apresentam índices menores, reflexo da presença de políticas públicas e do funcionalismo feminino em áreas como saúde e educação.
Mesmo assim, o MTE reconhece que o avanço é tímido. A Lei da Igualdade Salarial, sancionada em 2023, enfrenta resistência de setores empresariais e será testada no STF (Supremo Tribunal Federal). O julgamento será mais do que jurídico, é um marco sobre que tipo de país o Brasil quer ser, um que naturaliza a desigualdade ou um que, enfim, busca corrigir.
