Comportamento ou sobrecarga?
O discurso do mercado é claro: não basta dominar ferramentas ou processos, é preciso ter “inteligência emocional”, empatia, respeito e responsabilidade nas relações.
Por Julia Portela
Um levantamento do 6º Observatório de Carreiras e Mercado, realizado pelo PUCPR Carreiras, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, apontou que 50% das demissões em 2024 foram atribuídas a “questões comportamentais”.
O discurso do mercado é claro: não basta dominar ferramentas ou processos, é preciso ter “inteligência emocional”, empatia, respeito e responsabilidade nas relações. Na prática, a exigência se traduz em cobrança para que o trabalhador suporte pressões abusivas, metas inalcançáveis, jornadas extensas e baixos salários sempre com um sorriso no rosto e sem reclamar.
Mas será que é possível manter um “comportamento ideal” diante de um cenário de sobrecarga, insegurança e desrespeito constante? A alta taxa de desligamentos por comportamento não pode ser analisada apenas como falha individual, mas como reflexo de um ambiente que desgasta física e mentalmente o trabalhador. Apontar o dedo para o empregado sem questionar as condições impostas é perpetuar a lógica patronal.
Defender um ambiente de trabalho que se preocupa não apenas com a performance, mas com a dignidade e o bem-estar do trabalhador, é enfrentar o modelo ultraliberal que trata gente como peça descartável. O combate à precarização passa por denunciar essa lógica perversa e organizar a luta por direitos, respeito e condições dignas de trabalho.