A ciência confirma: demarcar é urgente
Estudo conduzido por pesquisadoras brasileiras, com base em dados das duas primeiras décadas deste século, comprova que as terras indígenas, especialmente as legalizadas, exercem papel decisivo na redução de doenças causadas por queimadas e enfermidades infecciosas tropicais em áreas urbanas situadas a até 500 quilômetros de distância.
Por Julia Portela
Estudo conduzido por pesquisadoras brasileiras, com base em dados das duas primeiras décadas deste século, comprova que as terras indígenas, especialmente as legalizadas, exercem papel decisivo na redução de doenças causadas por queimadas e enfermidades infecciosas tropicais em áreas urbanas situadas a até 500 quilômetros de distância. Os dados escancaram o impacto positivo direto da preservação dos territórios indígenas na saúde pública.
Este efeito não é por acaso. As terras indígenas seguem uma lógica oposta à do agronegócio predatório e da mineração ilegal: preservam a floresta, mantêm o equilíbrio dos ecossistemas e respeitam os ciclos da vida. É um modelo de convivência com a natureza que não se submete à lógica do lucro acima de tudo, e por isto mesmo é alvo constante de ataques do capital.
O equilíbrio entre os modos de vida tradicionais e a sustentabilidade dos recursos naturais é delicado, e segue ameaçado por mudanças socioeconômicas impulsionadas pelo avanço de políticas ultraliberais e interesses econômicos que transformam florestas em commodities. A destruição desses territórios ameaça o funcionamento dos ecossistemas e abre caminho para o surgimento e a proliferação de doenças, uma realidade que já cobra um preço alto.
A manutenção e a demarcação das terras indígenas são, portanto, medidas de saúde coletiva, justiça ambiental e reparação histórica. Proteger os povos originários é salvaguardar o futuro de todas e todos, inclusive daqueles que vivem nos grandes centros urbanos. A luta pela demarcação não é identitária, é civilizatória.