COP30: o tempo está acabando

A COP30, ao criar um pavilhão de ciências, tenta aproximar o conhecimento científico da sociedade e dos espaços de decisão, um passo necessário, mas ainda insuficiente diante da gravidade da crise climática.

Por Julia Portela

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima traz à tona uma contradição central: enquanto governos e grandes corporações discursam sobre sustentabilidade, as metas para conter o aquecimento global seguem cada vez mais distantes. O Acordo de Paris estabelece o limite de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, exigindo que as emissões de gases de efeito estufa atinjam o pico antes de 2025 e recuem 43% até 2030. No entanto, a realidade mostra um cenário de inércia e retrocesso e resultado direto de políticas econômicas voltadas ao lucro e à exploração desenfreada dos recursos naturais.

 


Especialistas alertam que o tempo está se esgotando. A cientista Marina Hirata reforça que as promessas firmadas em cúpulas internacionais não se sustentam sem o compromisso real dos Estados e do setor produtivo. A distância entre ciência e poder político continua sendo um dos maiores entraves para ações concretas. A COP30, ao criar um pavilhão de ciências, tenta aproximar o conhecimento científico da sociedade e dos espaços de decisão, um passo necessário, mas ainda insuficiente diante da gravidade da crise climática.

 


A crise ambiental é também uma questão social e de classe. São os povos periféricos, as comunidades tradicionais e os trabalhadores que sofrem primeiro e mais intensamente com as consequências da destruição ambiental. O discurso de “crescimento verde” usado por países ricos e grandes empresas não passa de uma nova roupagem para o mesmo modelo de exploração ultraliberal que sacrifica o meio ambiente e a dignidade humana em nome do lucro.

 


A mudança climática exige um enfrentamento político e coletivo, que ultrapasse a lógica do consumo e da omissão institucional. A transformação necessária não virá de gestos individuais isolados, mas de uma mobilização capaz de pressionar governos e corporações a mudar o rumo do desenvolvimento global. A luta pelo clima é, acima de tudo, uma luta por justiça social e sobrevivência.