Axé é gueto e força da identidade negra

O Axé é mais do que música, é trilha da baianidade, estética do gueto virando indústria, tambor dos terreiros ocupando trios elétricos e atravessando o Atlântico. Foi esta produção local, nascida da dor e da festa, que colocou Salvador como centro exportador de cultura afro-brasileira, desafiando a hegemonia branca do eixo Rio-São Paulo.

Por Camilly Oliveira

Ao sancionar a lei que institui o 17 de fevereiro como Dia Nacional da Axé Music, o presidente Lula não apenas homenageia um ritmo, mas celebra o povo. O Axé nasceu nos becos de Salvador, misturando candomblé, samba-reggae e ancestralidade, transformando exclusão em potência cultural. 

 


Ao transformar o marco em política de Estado, o governo federal legitima a arte que o Brasil tentou marginalizar, e que as elites rotularam como “exótica” e “ruidosa” por não suportarem a raiz negra e periférica.

 


O Axé é mais do que música, é trilha da baianidade, estética do gueto virando indústria, tambor dos terreiros ocupando trios elétricos e atravessando o Atlântico. Foi esta produção local, nascida da dor e da festa, que colocou Salvador como centro exportador de cultura afro-brasileira, desafiando a hegemonia branca do eixo Rio-São Paulo.

 


Em um país que empurra os jovens negros para as margens, dar centralidade a um estilo musical que os representa é reconhecer que não existe cidadania plena sem raiz, sem memória, sem corpo que se orgulhe do que canta. Cultura é linguagem de poder, e sem isto, não há possibilidade de politização possível.

 


O Axé mostra que o povo negro e pobre de Salvador não esperou por políticas públicas para se afirmar, mas agora exige que o Estado reconheça sua importância. E a história não será apenas branca. Mas, ritmada, percussiva, de resistência, e sobretudo, negra.