O Brasil é preto, de poder branco

Mesmo representando 56,7% da população, pretos e pardos continuam presos a uma lógica de exclusão, a cor da pele define o tamanho do salário e a velocidade da ascensão.

Por Camilly Oliveira

O Brasil é majoritariamente preto, mas o mercado insiste em ser branco. A estrutura invisível do racismo segue firme, ditando quem chega aos cargos de liderança e quem permanece à margem. Mesmo representando 56,7% da população, pretos e pardos continuam presos a uma lógica de exclusão, a cor da pele define o tamanho do salário e a velocidade da ascensão.

 

Enquanto homens brancos acumulam vantagens, 42% deles recebem mais do que homens negros, e quase metade das mulheres negras recebe menos do que eles. A desigualdade está entranhada nas hierarquias corporativas, naturalizando a ideia de que a população negra não pertence ao topo. As portas se abrem para estágios, mas se fecham para cargos de direção.

 

A contradição é gritante: R$ 1,9 trilhão por ano é o que a população negra movimenta na economia brasileira. Se houvesse equidade no trabalho, o país acrescentaria R$ 808 bilhões ao PIB (Produto Interno Bruto). Ou seja, o racismo, além de injusto, é burro, pois impede que talentos surjam, mina a produtividade e mantém o Brasil preso a uma elite homogênea e excludente.

 

O fato de apenas menos de 3% dos cargos de liderança no país serem ocupados por negros expõe o abismo. A narrativa empresarial sobre diversidade não se sustenta diante da realidade de conselhos e diretorias brancas. Enquanto isto, jovens negros seguem precisando provar duas, três vezes mais o seu valor. O Brasil é preto, mas o mercado insiste em apagar essa cor da paisagem do poder.