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O corpo abandonado, estigmatizado

No artigo, o diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ, Álvaro Gomes, fala sobre o sistema capitalista perverso que exclui de uma vida digna a população em situação de rua e os considera como vagabundos e preguiçosos.

Em 14/05/23, embaixo da Passarela Vanzolini, no bairro de Jardins em São Paulo foi encontrado morto mais um morador em situação de rua (O estadão, 18/05/23), estava lá o retrato da estigmatização e abandono desse segmento, vítima de um sistema capitalista perverso que exclui de uma vida digna esta população e os considera como vagabundos e preguiçosos e que são submetidos a violência e todo tipo de humilhação.


A pesquisadora Camila Giorgetti, realizou uma pesquisa nas cidades de São Paulo (Brasil) e Paris (França), para entender como a sociedade enxergava a população em situação de rua. Diversas categorias foram consultadas, policiais, médicos, agentes sociais, responsáveis políticos. Foi um estudo quantitativo e qualitativo onde foram utilizados 1116 questionários. A conclusão é que os resultados das representações sociais foram opostos: higienismo e a cidadania. (Livro: Moradores de Rua - Uma questão social?)


Em são Paulo predominou uma visão higienista de afastar de forma autoritária a população em situação de rua dos centros da cidade para não incomodar a população. Em paris predominou uma visão caracterizada pela busca de soluções, assegurando os direitos fundamentais desse segmento. Essa foi uma tese de doutorado da pesquisadora Camila Giorgetti, pela PUC-SP/Institut d'Études Politiques de Paris, concluída em 2004 e transformada em livro em 2006.


Embora a pesquisa tenha sido concluída em 2004, as evidências mostram que a visão preconceituosa, discriminatória, higienista ainda continua no Brasil de 2023. Vejamos em São Paulo e expulsão dos moradores em situação de rua da Praça da Sé, a arquitetura hostil que tem como objetivo dificultar o acesso dessas pessoas ao espaço público, onde fica muito difícil para eles descansarem e dormirem.

 

Odair Mesquita dos Santos, encontrado morto na noite fria paulistana, é mais um exemplo da frieza da elite escravocrata, que não admite a melhoria das condições de vida da população que vive num país extremamente rico, mas com as pessoas morrendo na sarjeta como objetos descartáveis. Este quadro não permanecerá, os explorados, oprimidos e excluídos haverão de alcançar os seus direitos. Não será uma dádiva da burguesia e sim uma conquista da sociedade.


*Álvaro Gomes é diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ