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A vida na rua é morte antecipada

No artigo, o diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ, Álvaro Gomes, aborda o crescimento da população em situação de rua, que segundo estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada saiu de 90.480 em 2012 para 281.472 em 2022.

A população em situação de rua aumentou de forma considerável nos últimos anos, conforme estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, saiu de 90.480 em 2012 para 281.472 em 2022 (IPEA,2022).  Reflexo das desigualdades sociais, do desemprego, do trabalho precário, de conflitos familiares, do uso de drogas, da falta de moradia, este segmento encontra como alternativa as ruas e assim a morte dessas pessoas é antecipada.


A população em situação de rua sofre com a violência, com a discriminação, preconceito, com as diversas doenças típicas das condições insalubres da vida na rua e com isso morrem prematuramente. São jovens, crianças, adultos, abandonados, desprezados, descartados pelo sistema opressor de acumulação capitalista sem nenhuma preocupação com os direitos humanos.


Na pesquisa que estou fazendo para o mestrado profissional em psicologia, sobre população em situação de rua, conheci várias pessoas. Tive conhecimento pelas redes sociais da morte de dois jovens conhecidos meu, um de 29 anos, um dos líderes do movimento, outro que chegou a estudar psicologia durante 3 semestres, segundo ele me falou, não perguntei a idade, mas devia ter uns 30 anos. Os dois com grande potencial.  Esse é um indicativo de que a expectativa de vida desse segmento é muito abaixo do da população em geral.


Não conheço estudos sobre a expectativa de vida da população em situação de rua no Brasil, mas os pesquisadores da  Universidade de Warmia e Mazury em Olsztyn, Polonia numa análise retrospectiva baseada em dados de 615 pessoas em situação de rua, das quais 176 morreram no período de 2010 a 2016, na cidade de Olsztyn, concluiu que a vida dessas pessoas era  abreviada em média 17,5 anos, comparada com a população em geral. Pesquisas em outros países mostram que esta redução varia de 16 a 28 anos https://doi.org/10.1371/journal.pone.0189938


Os motivos dessas mortes prematuras são vários, mas os principais são as mais diversas doenças, típicas de quem vive em condições insalubres. Aqui no Brasil podemos acrescentar mais um elemento, a violência, seja dos agentes de segurança ou de outros segmentos da sociedade. Essa situação não pode continuar, urge a implementação de políticas públicas que permita a autonomia dessas pessoas e que elas possam sair dessa situação e viver dignamente.


Esses dois episódios com militantes jovens do movimento de população em situação de rua é um indicativo das dificuldades desse segmento para sobreviver onde os dados coletados dos entrevistados mostram evidências de uma expectativa de vida muito abaixo do da população em geral. Pesquisadores da Universidade de Warmia e Mazury em Olsztyn, Polonia numa análise retrospectiva baseada em dados de 615 pessoas em situação de rua, das quais 176 morreram no período de 2010 a 2016, na cidade de Olsztyn, concluiu que a expectativa de vida era de 55,95, bem menor que a da população em geral. A pessoa em situação de rua tem sua vida abreviada em média 17,5 anos comparando com o restante da população. Outros estudos apontam na mesma direção, na França o tempo médio de uma pessoa em situação de rua é de 49 anos, 28 anos a menos da população geral. Outras fontes de literatura científica apontam que a vida útil média de uma pessoa em situação de rua  está situada entre 16 e 28 anos menor que a população geral (Romaszko et al., 2017).  https://doi.org/10.1371/journal.pone.0189938

 

*Álvaro Gomes é diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ