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Trump e a Lei do Talião

No artigo, Carlos Pronzato fala sobre Donald Trump.

Era de há muito previsível a brutal repressão aos imigrantes nos Estados Unidos sob o governo de Trump, como a que aconteceu no dia 7 de junho, em Los Angeles. Não que os governos que o precederam fossem isentos desta contínua aberração num mundo cada vez mais globalizado e comunicado, onde massas humanas se movem entre países e continentes diariamente, afluindo principalmente aos EUA e Europa, territórios privilegiados por usufruírem, muito além dos próprios recursos, dos recursos naturais alheios, espoliando países cujas populações empobrecem pelo saqueio estrangeiro e o doméstico, o das elites locais, sempre aliado às metrópoles exploradoras do Norte do mundo.

 

 

Obrigados a uma sobrevivência tenaz longe da sua terra natal, os migrantes do Sul global se viram em todo tipo de trabalhos rejeitados pelos cidadãos locais, que não estão obrigados a emigrar dos seus países de economias poderosas (alimentadas pelos países dos migrantes), embora possam emigrar de motu próprio, se quiserem.     

 

 

O presidente - apesar de soldados federais em funções policiais estar proibida por um Ato de 1878 - ordenou ao Pentágono a mobilização de dois mil soldados da Guarda Nacional para conter os protestos contra a polícia de imigração norte-americana, ICE. O governador da Califórnia declarou que não havia necessidade desse reforço federal e criticou a medida como “provocativa”. Pouco importam a Trump as críticas dos outros, portanto, convocou a Guarda Nacional pela primeira vez em décadas sem a solicitação de um estado e umas 60 pessoas, incluindo menores de 18 anos, foram presos durante a repressão imigratória que envolveu ainda batidas policiais no país inteiro e inclusive os marines - e isto não é um filme edulcorado de Hollywood - foram colocados em alerta máximo.

 

 

O abuso do poder se intensificou nos últimos tempos com deportações constantes, num processo que se vislumbra pernicioso e que infelizmente levará a confrontos diplomáticos, primordialmente com México, cuja presidente, Claudia Scheinbaum, não teme o palavrório arrogante do empresário norte-americano.

 

 

Este processo de desrespeito crescente a milhões de pessoas migrantes, nem só nos EUA, mas também na Europa, é produto da onda de ódio dos governos de direita contra os estrangeiros que contribuem diariamente com seus trabalhos com os países que espoliam os seus próprios, curioso paradoxo do mundo capitalista.

 

 

Se a justiça retributiva da milenária Lei do Talião (olho por olho, dente por dente) fosse aplicada pelos países dos cidadãos afetados contra cidadãos do país abusador, a Migração só restringiria sua ação administrativa às habituais burocracias, sem racismo nem xenofobias, causas fundamentais destas ações repressivas.

 

 

* Carlos Pronzato é cineasta, diretor teatral, poeta e escritor. Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). [email protected]