Brasil dos bilionários e dos esquecidos

A desigualdade não é um acidente de percurso, é o motor de um sistema que concentra lucros e pulveriza a dignidade. O aumento do número de milionários não é progresso. É sintoma de uma estrutura doente.

Por Camilly Oliveira

Enquanto 433 mil brasileiros acumulam fortunas acima de US$ 1 milhão, milhares seguem esquecidos na miséria. O dado, divulgado pelo Global Wealth Report do banco suíço UBS, escancara uma verdade incômoda: a desigualdade no Brasil não apenas resiste, mas se expande. 

 


O Brasil ocupa o 19º lugar em número de milionários, mas desponta como um dos líderes globais em desigualdade social, ao lado da Rússia, segundo o próprio relatório. O país agora, virou vitrine do abismo social: poucos com tudo, muitos sem nada.

 


Nos próximos 20 anos, US$ 9 trilhões devem mudar de mãos no Brasil, grande parte por herança. É o capital blindado pela lógica da reprodução familiar, com riqueza que não circula, apenas se multiplica entre sobrenomes. Enquanto os ricos herdam, o povo herda dívidas, filas no SUS (Sistema Único de Saúde) e escolas caindo aos pedaços. O modelo é violento, alimenta castas e tritura direitos.

 


O índice de Gini (quanto mais perto de 1, maior a concentração de renda) confirma o que se vê nas ruas: o Brasil está entre os países mais desiguais do planeta. A cor da pele define oportunidades e o CEP (Código de Endereçamento Postal) determina expectativas de vida. 

 


A desigualdade não é um acidente de percurso, é o motor de um sistema que concentra lucros e pulveriza a dignidade. O aumento do número de milionários não é progresso. É sintoma de uma estrutura doente.

 


É crucial romper com a farsa da meritocracia. Taxar grandes fortunas, heranças bilionárias e lucros indecentes não é pauta radical, é condição mínima de justiça. Um país com tanta concentração de riqueza não pode mais fingir normalidade.