Agro, vitrine ultraliberal

Enquanto as máquinas de colheita giram a todo vapor, a realidade da população é outra. A inflação dos alimentos acumula alta de 7,81% nos últimos 12 meses, a maior desde fevereiro de 2023.

Por Julia Portela

 

O ano de 2025 deve ser de safra recorde no Brasil. A estimativa do IBGE é de que passe dos 328 milhões de toneladas. O número é comemorado com euforia pelo agronegócio e seus porta-vozes, leia-se a grande mídia, como um "triunfo nacional". Mas a quem serve esse recorde?

 

 

Enquanto as máquinas de colheita giram a todo vapor, a realidade da população é outra. A inflação dos alimentos acumula alta de 7,81% nos últimos 12 meses, a maior desde fevereiro de 2023. Em outras palavras: o Brasil bate recordes de produção agrícola, mas o povo paga caro para comer. A mesa do brasileiro continua vazia, mesmo com os depósitos cheios.

 

 

O aparente paradoxo é, na verdade, a face mais crua de um modelo econômico que prioriza o lucro em detrimento à vida. O agronegócio brasileiro, estruturado sob os pilares ultraliberal, está voltado quase exclusivamente para o mercado externo. Exporta toneladas de grãos, carne e commodities, mas importa insegurança alimentar.

 

 

O que deveria ser soberania vira dependência, o que poderia alimentar a população vira cifra para os latifundiários. O modelo agroexportador concentra renda, terra e poder. Destrói a agricultura familiar, expulsa pequenos produtores, devasta o meio ambiente e precariza relações de trabalho.

 

 

A verdade é que o agro, exaltado como "pop" e "tecnológico", representa a essência do ultraliberalismo no Brasil: um sistema que transforma direitos em mercadoria, recursos naturais em ativos financeiros e comida em instrumento de especulação.